Um espetáculo de memórias, algumas dissonantes na versão de cada um e outras sem que correspondam à verdade dos factos, preenchem os quadros-performance de “Tiranossauro Rex”, que se estreia na quarta-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.

“Tiranossauro Rex — Procedimento básico de memorização e esquecimento”, com texto e encenação do brasileiro Alex Cassal, decorre em cinco espaços diferentes do D. Maria II, entre os quais o guarda-roupa, a sala de costura e o bar dos atores.

Realizado na sequência de um convite que o diretor do Teatro Nacional D. Maria II fez a Alex Cassal, o encenador projetou levar para o teatro personagens do teatro, mas quando se deparou com o edifício achou que “seria teatro a mais para aquele edifício já de si carregado de história e de memórias“, como confessou esta segunda-feira aos jornalistas no final de um ensaio de imprensa.

Assim, decidiu partir de situações autobiográficas, “na medida em que são memórias de família, de pessoas conhecidas”. “Tenho um pai professor, uma mãe enfermeira, a minha avó foi mordida por o meu filho”, disse Alexa Cassal, exemplificando com situações que são mencionadas na peça e que correspondem a memórias expostas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A história acaba por ser um pouco de pós-verdade. Porque a história é aquela que quem consegue contar conta e isso não significa que seja o que aconteceu”, disse.

A provar as palavras do criador está o facto de num monólogo se referir que há uma criança que morde o dedo da avó e noutro quadro a dentada tenha sido dada pelo filho e não pelo neto.

Porque as memórias são neste espetáculo assumidas como erro, fragmento, lacuna“, observou Alex Cassal.

Questionado sobre se o que fica da peça acabar por ser um jogo de “memórias de memórias”, o autor do espetáculo admitiu que sim.

Até porque a memória é uma “espécie de biblioteca-arquivo onde se podem trocar todas as etiquetas”, referiu. “Mas às vezes o mais importante não é o conjunto das histórias, mas um fragmento, ou mais”, sublinhou.

“Tiranossauro Rex” é composto por um quadro inicial e sete monólogos — um dos quais parte de memórias inventadas –, apesar de os grupos de espetadores não assistirem a mais do que cinco. Após o quadro inicial, os atores escolhem grupos de espetadores para que estes assistam a cada monólogo-performance, sem que qualquer deles tenha uma sequência fixa.

Os atores podem, porém, rodar na interpretação dos monólogos o que possibilita que se vejam quadros interpretados por atores diferentes caso se assista à peça mais do que uma vez.

“Tiranossauro Rex” vai estar em cena de quarta-feira a domingo, até 27 de março, e tem interpretação de Alfredo Martins, António Pedrosa, Cláudia Gaiolas, Márcia Lança, Marco Paiva, Paula Diogo e Tónan Quito.