Mário David foi acusado pela esquerda de traição por ter feito parte da candidatura da búlgara Kristalina Georgieva a secretária-geral da ONU, contra António Guterres. Após o português ser escolhido, a 5 de outubro de 2016, o antigo eurodeputado não voltou a falar no assunto. Agora, ao Observador, quebrou o silêncio. O antigo eurodeputado — a partir de Malta, onde decorre o Congresso do Partido Popular Europeu (PPE) — confessa que não tem “nada contra Guterres” e que se limitou a “trabalhar numa candidatura do PPE, a pedido do PPE e de uma amiga.” Sobre o que já decorreu do mandato do socialista, Mário David considera “bizarro” o facto de Guterres ter mandado retirar um relatório da página da ONU que acusava Israel de operar um “apartheid”.

Mário David — que foi vice-presidente do PPE durante nove anos — pode agora em Malta rever Georgieva que, pouco depois de falhar a eleição na ONU (nem o esforço de última hora de Angela Merkel foi suficiente), se tornou presidente do Banco Mundial. Quanto à eleição de António Guterres como secretário-geral, Mário David continua a achar que é “positiva para o próprio, para o país, mas acaba aí“, pois “não tem impacto na vida dos portugueses“.

O antigo eurodeputado considera que os socialistas não têm razões para criticá-lo, já que “o cargo de presidente da Comissão Europeia, é muito mais importante para o quotidiano dos portugueses e mesmo assim, a maioria dos deputados socialistas votaram contra Durão Barroso — honra seja feita a António Costa, então eurodeputado, que votou a favor”. Para Mário David, o cargo de secretário-geral da ONU é um “cargo diplomático”, enquanto o cargo de presidente da Comissão Europeia é “de execução”.

Sobre o caso Guterres, não guarda mágoa de ter sido acusado de não ser patriota: “Prefiro que falem mal de mim do que não falem, principalmente quando tenho razão.” Ainda recentemente, a caminho da Conferência de Segurança de Munique, Mário David encontrou-se num avião com António Guterres e falaram cordialmente. O antigo secretário de Estado de dos Assuntos Europeus faz, aliás, questão de dizer: “Não sendo a Giorgieva, gostava que fosse António Guterres”.

Mário David conta também que, quando começou a trabalhar numa candidatura de Giorgieva, “António Guterres era apenas um candidato a candidato presidencial“. Há aqui uma confissão: é que a candidatura da búlgara não foi de última hora e estava a ser preparada há mais de três anos.

Sempre pensámos que, se não fosse a Giorgieva, seria o primeiro-ministro eslovaco. Em todas as conversas que tivemos com os russos, estes disseram-nos sempre que o cargo seria para a Europa de Leste. E os chineses diziam que seguiam os russos porque era a vez deles escolherem”, conta o antigo eurodeputado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR