Foi em maio de 2014 que um antigo quartel da GNR abriu as portas àquela que se transformaria na casa de projetos que vão da economia digital, às tecnologias médicas, à nanotecnologia e ao mobile. A Startup Braga nasceu há três anos para ser uma “comunidade” aberta à inovação e para pôr Braga “no radar do empreendedorismo nacional e internacional”. Em três anos, das 111 startups que por lá passaram (e passam), 67% conseguiram levantar quase 14 milhões de euros de financiamento, que se traduziram na criação de 368 postos de trabalho – entre fundadores e trabalhadores. Hoje, falam-se diariamente 11 línguas, numa “comunidade” com 84 startups. De Faro a Braga. De Braga para o mundo.

Estamos muito satisfeitos com o papel da Startup Braga no desenvolvimento do ecossistema empreendedor em Portugal”, admite ao Observador Carlos Oliveira, presidente da InvestBraga. Mas, garante, há ainda “tudo por fazer” na casa das startups. É que ela própria é uma startup que, como todas as outras, se “reinventa todos os dias”, num ecossistema que evolui a “uma velocidade elevada”.

“Acima de tudo, somos uma comunidade. Uma comunidade cujo principal objetivo é apoiar a criação e o crescimento das empresas de base tecnológica, focada na economia digital, medtech (tecnologias médicas) e nanotecnologia. Promovemos a incubação, pré-aceleração e aceleração com um número de mentores e de parceiros que andam lado a lado connosco”. É assim que a Startup Braga – a incubadora de empresas que nasceu sob a alçada da InvestBraga, a agência que tem por objetivo a dinamização económica da região – se define no relatório que apresenta os números que fazem o balanço destes três anos.

Hoje, naquele antigo quartel da GNR, porta com porta com o GNRation, estão cerca de 18 empresas. As outras pertencem à rede, mas só se deslocam à incubadora para participarem nos eventos, workshops, sessões de treino ou conversar com os mais de 60 mentores e especialistas da incubadora, que registou mais de 700 candidaturas aos seus programas. Em três anos, 35 startups estiveram incubadas e foram realizados três roadshows (viagens) internacionais a Londres e aos Estados Unidos. Em média, os projetos ficam 15 meses na “comunidade” da Startup Braga.

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Passaram três anos, mas parece que já passaram dez, por tudo aquilo que se fez, pelas milhares de horas de mentoria, de eventos, por todas as startups que se apoiaram”, admite Carlos Oliveira, que foi também secretário de Estado do Empreendedorismo no governo de Pedro Passos Coelho e fundador da MobiComp, tecnológica que em 2008 foi vendida à Microsoft.

A maioria das empresas – cerca de 60 – trabalha a partir da cidade minhota. Mas já quase uma em cada cinco está presente além fronteiras, com sede ou escritórios em países como o Brasil, China, Dinamarca, Alemanha, Irlanda, Letónia, Holanda ou Estados Unidos. Quase metade (42%) estão internacionalizadas, a vender para mercados externos, sendo que 20% das startups estão quase inteiramente focadas nos mercados externos.

Mais de metade (55%) estão a vender, tendo gerado quase 12 milhões de euros em receitas. Cerca de 53% das empresas têm clientes no estrangeiro e chegam a 58 países, nos cinco continentes.

Em três anos, a Startup Braga teve dois exits (momento em que uma startup sai da esfera dos investidores de capital de risco para ser adquirida por outra ou entrar em bolsa). Um das scaleups (empresas com média de crescimento anual em colaboradores ou volume de negócio superior a 20%, num período de três anos), a iMobileMagic, foi adquirida pela norte-americana Smith Micro Software, no ano passado. A iMobileMagic iniciou a atividade em 2011 como especialista no desenvolvimento de aplicações móveis com vista à segurança e proteção de crianças, idosos e outras pessoas que necessitassem de cuidados extra.

Já este ano, a Followprice – ferramenta que alerta os utilizadores para os descontos de preços nas lojas online – comprou a PepFeed (sediada na Startup Braga), uma plataforma que cria perfis dos consumidores quando estão a comprar produtos eletrónicos.

No ecossistema bracarense há tecnologias médicas e nanotecnologia

O Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), a Universidade do Minho e o Hospital de Braga têm dado uma ajuda ao ecossistema bracarense que tem nas áreas da economia digital, tecnologias médicas e nanotecnologia – através de marketplaces, enterprise IT (hardware ou software desenhado para atender às necessidades de uma empresa), software as a service (SaaS), dispositivos médicos ou aplicações móveis – a sua “diferenciação”.

“Não faz sentido estarmos a jogar todos no mesmo local do campo. Muitas vezes o que acontece em Portugal é que se alguém está a ter sucesso em determinada área, vamos todos investir nela, vamos todos fazer a mesma coisa. O que nós queremos, desde o início, é tirar partido das infraestruturas [da cidade] e criar áreas onde nos distinguimos. Na área da nanotecnologia somos dos únicos a fazê-lo no país e mesmo no mundo há muito poucas entidades a fazer aceleração e incubação de startups [de nanotecnologia]. É uma área de futuro e estamos a aprender como é que isto se faz”, admite Carlos Oliveira.

O “mito” dos millennials

A média de idades dos empreendedores ronda os 33 anos, o que faz “cair alguns mitos” de que quem cria startups são millennials acabados de sair da universidade. Também o são mas não só. Há empreendedores dos 18 aos 61 anos, mas a grande maioria são pessoas com experiência profissional que decidiram lançar os próprios projetos, diz Carlos Oliveira. Destes, 87% são homens e apenas 13% são mulheres. A maioria tem formação em engenharia informática, saúde e biotecnologia, economia e gestão e comunicação e design, sendo 26% dos fundadores doutorados.

Desde a sua fundação, a Startup Braga lançou quatro programas de aceleração. O último arrancou em janeiro , com mais de 75% das empresas de fora da região de Braga.

As startups que neles participaram mostram uma receita maior, mais investimento e mais empregos criados: cada uma criou, em média, 6,1 postos de trabalho, gerou 472 mil euros de receitas e captou quase 242 mil euros de financiamento.

Quanto às startups que ficaram apenas pela incubação, o número de empregos criados desce para 5,2. Em termos de receitas cada uma gerou 171 mil euros e levantou cerca de 194 mil euros.

1 milhão de euros para investir em startups

Um dos instrumentos que a Startup Braga tem para apoiar novos projetos no ecossistema é um “microfundo” de 1 milhão de euros para investir em pre-seed (investimento inicial para validação do projeto), criado em conjunto com mentores e angels, com o objetivo de apoiar as startups numa fase em que é complicado captarem investimento.

“[Este investimento] é sempre em articulação com investidores nacionais. Não queremos competir. Aquilo que queremos quando investimos 50, 75 mil euros em pre-seed, é qualificar as empresas para irem melhor preparadas para rondas e investimentos subsequentes com business angels e outros”, explica o presidente da InvestBraga.

Sobre os desafios que ainda há para ultrapassar, Carlos Oliveira acredita que é preciso “dar um enfoque muito grande às vendas, ao marketing e à estratégia de go-to-market“, sublinhando que os programas de incubação e de aceleração desenvolvidos se focam nessas áreas. “Não há melhor forma de financiar uma startup do que ser financiada pelos seus clientes”, nota. A área da nanotecnologia será outra das apostas da Startup Braga.