Paulo de Carvalho é um dos nomes mais importantes da história da música contemporânea portuguesa. Dois exemplos: fundou os Sheiks nos anos 60, um dos principais precursores do rock lusitano; a solo cantou “Depois do Adeus” no Festival da Canção, tema que acabou por ser a senha do 24 de abril de 1974.

No ano do septuagésimo aniversário junta-se a marca dos 55 anos de carreira, que vão ser novamente assinalados este sábado, na Praça do Município em Lisboa, uma oferta do artista e da Câmara Municipal à cidade.

A base deste espetáculo é o álbum Duetos, editado no passado mês de maio, produzido por Bernardo Carvalho Costa, o músico e produtor que conhecemos por Agir, filho de Paulo de Carvalho. Duetos cruza três gerações distintas e inclui nomes como Camané, Carlos do Carmo, José Cid, Rui Veloso, Aurea e Raquel Tavares, entre muitos outros.

Em palco estarão, este sábado, Carlos do Carmo, Tozé Brito, Agir, Mafalda Sacchetii (também filha de Paulo de Carvalho) e Tatanka. O espetáculo começa às 22h, a entrada é gratuita.

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Para assinalar a efeméride, o Observador convidou Paulo de Carvalho a comentar 12 fotos a que correspondem outros tantos momentos importantes da sua vida e carreira.

Paulo de Carvalho nasceu no dia 15 de maio de 1947 na maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. “Esta fotografia foi tirada no Rossio. Era onde, naquele tempo, se levavam os miúdos para tirar um fotografia.”

Paulo de Carvalho com 5 anos, ao lado da mãe, Adriana. “Naquele tempo tirávamos fotografias para mandar à família. Esta foi para enviar ao meu pai, que não estava connosco.”

A família morava na Rua da Madalena e mudou-se para Alvalade quando tinha 3 anos. A primeira recordação de infância “foi da minha escola, no Campo Grande”.

Com os Sheiks, na década de 60. “Aqui tínhamos acabado de chegar ao Aeroporto de Pedras Rubras, estava lá um chofer à nossa espera, sentíamo-nos umas vedetas internacionais! Divertíamo-nos muito com o que fazíamos.”

Uma curiosidade nesta fotografia: Paulo de Carvalho está no banco de trás, à janela, no primeiro plano da imagem. Ao seu lado o músico Fernando Chabi e ao fundo, junto à porta do lado direito do carro, o agora realizador Rui César Simões, que era o empresário da banda na altura.

No Festival da Canção em 1974, realizado no Teatro Maria Matos, em Lisboa, no dia 7 de março. Paulo de Carvalho cantou a canção vencedora, “Depois do Adeus”, que foi no mês seguinte a primeira senha do movimento dos capitães no 25 de abril de 1974.

“Não sabia nada do assunto, mas fiquei contente. Na altura não tinha qualquer participação partidária, a minha aprendizagem política foi feita com o 25 de abril.”

E remata: “Estas calças à boca-de-sino davam muito jeito para não se notar o bater dos joelhos com o nervosismo.”

Foto de promoção do festival de 74, “tirada em Cascais, vê-se o farol lá ao fundo”.

Naquele tempo “o Festival da Canção era a festa da música ligeira em Portugal”, daí que o artista e compositor afirme ser “um produto dos festivais”. Entre 1970 e 1977 participou por diversas vezes, com um grupo chamado Os Amigos.

“Esta foi tirada na Expo 98, era um palco lindíssimo em cima da água. Eu estou do lado direito da fotografia, ao meio está Ivan Lins e à esquerda o Edmundo Silva, companheiro dos Sheiks.”

Foi um encontro promovido pela administração artística da Exposição que juntava portugueses com brasileiros. Sobre a Expo 98, Paulo de Carvalho afirma: “Foi uma época coletiva muito interessante, as pessoas gostavam e viviam o que se estava a passar. Acho que a Expo elevou muito a nossa moral.”

Single de “Maria, Vida Fria”, a canção que interpretou no VII Festival Internacional do Rio de Janeiro, em 1972. “Fomos dois artistas a representar Portugal: eu e o Zeca Afonso. Lembro-me que o elemento português convidado para júri foi a Laura Alves. Curiosamente, esta foi a última edição do festival.”

E quem ganhou nesse ano? “Um dos meus heróis da música: David Clayton-Thomas dos Blood, Sweat & Tears.”

Paulo de Carvalho reconhece que hoje existe mais intercâmbio cultural entre Portugal e o Brasil, mas não deixa de repetir uma expressão que, afirma, utilizou muitas vezes: “Eles mandavam as novelas e nós mandávamos o dinheiro.”

“Esta fotografia foi tirada algures no início dos anos 80, estava de férias no Algarve, na aldeia das Açoteias. A nossa família ia muito para lá, era tudo muito barato naquela altura.”

Ainda hoje o Algarve é um dos seus destinos de férias, a par da costa alentejana. E no estrangeiro? “Cabo Verde”.

Carlos Mendes, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho no programa “1,2,3” de Carlos Cruz. “Tivemos um espetáculo chamado Só Nós Três. Acho que a ideia até foi do Carlos Cruz. O quarto mosqueteiro ou Cardeal Richelieu era o Pedro Osório!”

Paulo de Carvalho sublinha a importância da televisão na projeção artística: “Hoje existem outros canais [como as redes sociais], mas a televisão continua a ser fundamental.”

Paulo de Carvalho tem cinco filhos, dois são artistas. Nesta imagem está com Mafalda Sacchetti, num concerto realizado no ano passado no Tivoli.

O outro filho ligado à música é Bernardo Carvalho Costa, que conhecemos pelo nome artístico Agir. “Nunca fiz nada por isso por ter filhos artistas, mas tenho muito orgulho nisso.”

“Aqui o Bernardo tinha uns 4 ou 5 anos. Era um miúdo brincalhão e meiguinho. Achavamos que tinha mais jeito para o teatro que a música, mas olha, enganou-nos!”

“Consigo distinguir as coisas. Não é por ser meu filho, mas o Bernardo é um grande produtor. Somos os dois teimosos, mas as coisas são bem separadas. Às vezes não concordamos um com o outro, mas respeito sempre a decisão dele.”

Agir foi quem produziu o álbum Duetos, editado no passado mês de maio, e é também o produtor do espetáculo que se realiza este sábado, em Lisboa.