Uncharted 4 chegou aos nossos lares em maio do ano passado e as reações foram inevitavelmente positivas: não só devido ao trabalho incansável da produtora Naughty Dog e à atenção ao detalhe, mas também pelo estatuto que este adquiriu ao longo da geração passada com os seus três títulos e um outro na PlayStation Vita, trabalho da Bend Studios. Este último foi responsável por um excelente exemplo da utilização das funcionalidades da consola (à altura de Tearaway, do estúdio britânico Media Molecule), mas longe da qualidade a que fomos habituados. Como em todos os jogos, Uncharted 4 contava com algumas falhas (ainda que tomando em consideração o jogo que é e o que pretende fazer), mas nada que pusesse em causa a qualidade geral da obra.

Na altura do lançamento de Uncharted 4: O Fim de um Ladrão havia ficado prometido um novo episódio sob forma de Downloadable Content (DLC) e na Electronic Entertainment Expo de 2016 (um mês após o lançamento de um novo título principal da série) Uncharted: O Legado Perdido foi anunciado também com a revelação dos novos protagonistas da aventura. Chloe Frazer, personagem do segundo título da série, uma caçadora de tesouros e ladra sob contrato, e Nadine Ross, antagonista de Uncharted 4, agora ex-líder do exército Shoreline, que se juntam para tentar recuperar o dente de Ganesh, talvez das divindades mais adoradas pelos hindus, nas montanhas da Índia.

Porém, com Uncharted: O Legado Perdido a um mês do lançamento, o posicionamento no mercado irá ser sensivelmente diferente do inicialmente programado: falamos de uma experiência completa cuja duração deverá estar entre as nove e as quinze horas para conclusão da história principal, uma vez que foi comparado às campanhas de Uncharted 3 e 4 no evento de apresentação que a PlayStation Portugal preparou no The Geographic Club em Madrid, na passada sexta-feira. Além da apresentação existiu também a oportunidade de jogar um dos capítulos do título e entrevistar Arne Meyer, Director de Comunicações da Naughty Dog.

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Na verdade, a personagem que controlamos (Chloe Frazer) é diferente. Tem uma postura mais acrobática e ágil em combate corpo-a-corpo (apesar de, para aspetos funcionais, ter exatamente o mesmo efeito) e o seu passado profissional justifica a introdução de novas mecânicas (como por exemplo, o engenho de abrir fechaduras de cofres), mas, no final, Uncharted: O Legado Perdido acaba por não fugir ao que a série principal tenciona ser: um jogo de aventura e ação com boas personagens e boa disposição. Arne Meyer referiu que a forma correta de olhar para O Legado Perdido de um ponto de vista de jogabilidade é uma compilação e reimaginação das melhores mecânicas presentes nos jogos principais da séries. Esta entrevista estará posteriormente disponível na íntegra no Rubber Chicken.

Tivemos a oportunidade de experimentar cerca de trinta minutos deste novo jogo, num capítulo que nos coloca num recreio que foi descrito como ‘o maior espaço aberto em qualquer jogo da série Uncharted’. Nesta área contamos com um carro para nos deslocarmos mais rapidamente e vários pontos de interesse que deveremos explorar para progredir na história. A Naughty Dog escolheu cuidadosamente este capítulo do jogo por vários motivos: não só permite mostrar aos jogadores uma jogabilidade completamente diferente daquilo que já foi feito na série (e ainda na lista de características mais desejadas nos jogos pelo público, o mundo aberto), tal como mostrar como conseguem que a história se desenvolva em função dos locais e ordem com que estes são visitados.

Se Oxenfree (da Night School Studio) mostrou em dezembro passado que as conversas entre personagens podem ser dinâmicas e Uncharted: O Legado Perdido vem reforçar esta ideia: se uma conversa entre Chloe e Nadine é interrompida por uma secção de tiroteio ou uma consulta rápida ao mapa da região, as personagens irão retomar mais tarde a conversa do ponto onde esta foi deixada. Isto é uma excelente adição a este tipo de jogos: até em Uncharted 4 houveram partes de conversas que os jogadores nunca tiveram oportunidade de ouvir por progredirem demasiado rápido no local da ação, fazendo-os perder detalhes interessantes sobre a história ou uma boa gargalhada.

Uncharted: O Legado Perdido demonstra competência e bom aspeto, herdados das boas práticas e lições aprendidas com os seus antecessores. Representa também uma multitude de novas oportunidades: para experimentação de novas ideias e mecânicas, relembrar e prestar homenagem aos anteriores e até, para aqueles que ainda não tiveram oportunidade de mergulhar na série, uma boa oportunidade para testarem se Uncharted tem algo também para eles, uma vez que vai ser lançado como um título independente dos restantes no dia 23 de Agosto.

Mas, no final, apesar de tudo isto, é só mais um jogo que ameaça oferecer o mesmo ou pouco mais que aquilo que os restantes oferecem, que é, no fundo, todo o seu propósito: uma aventura de ação e exploração com uma história e personagens interessantes. Para vermos como se compara com os restantes títulos de forma mais objetiva, teremos de esperar pelo lançamento.

[Bernardo Lopo, Rubber Chicken]

O Rubber Chicken viajou até Madrid a convite da PlayStation Portugal, para o evento de apresentação de Uncharted: O Legado Perdido.