Há um ano, o bronzeado e o cenário eram os mesmos, mas o discurso era outro. Pedro Passos Coelho chegava à festa da rentrée do PSD no Algarve pronto para exigir responsabilidades e respostas ao Governo. Os números sobre o fraco crescimento económico tinham sido revelados nessa semana pelo INE e o Governo ainda “não tinha reagido”. Por isso o líder do PSD chegava ao Pontal pronto munido de argumentos para se defender das críticas: “Não sou eu que sou pessimista, os números é que não são bons”. Um ano depois, contudo, prefere não antecipar nada. Apenas que não está ali para fazer “prova de vida” e que o partido está “mobilizado” e “preparado para o futuro”.

“Nem pensar nisso, o PSD não precisa de fazer prova de vida“, começou logo por dizer aos jornalistas à chegada ao calçadão de Quarteira, onde esta noite vai decorrer o habitual jantar-comício que marca a entrada do PSD em mais um ano político — um ano especial, já que é ano de eleições autárquicas. Passos garante que o partido está “mobilizado” e recusa-se a dizer uma só palavra sobre o que irá acontecer a seguir, caso o resultado seja considerado uma derrota para os sociais-democratas.

Pedro Passos Coelho há muito que diz que não se demite da liderança do partido em função do resultado das eleições do próximo dia 1 de outubro. Mantém o que disse? “Não vou introduzir nenhum elemento novo sobre essa matéria”, limitou-se a dizer, sublinhando que o “partido está mobilizado”, quer para as autárquicas, quer para “ser uma oposição importante“. Está, garante, “preparado para o futuro”. Por isso, não falem em “prova de vida”, disse.

Ainda assim, e como a festa do Pontal também serve para medir a mobilização do partido, Passos sublinhou as “dificuldades” acrescidas ao facto de o partido estar concentrado nas “ações de campanha” pelo país fora.

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Certo é que o ano político que se segue é um ano-chave para o PSD de Passos Coelho. Primeiro são as eleições autárquicas, onde o PSD parte de uma fasquia muito baixa, já que em 2013 teve um dos piores resultados de sempre, com apenas 106 presidências de câmaras conquistadas; depois segue-se o teste do Orçamento do Estado para 2018, onde o PSD tem de mostrar firmeza na oposição; e depois segue-se a contagem decrescente até ao congresso do partido, que será no primeiro trimestre do ano. Por essa altura já a oposição interna estará a alinhar-se para fazer frente ao líder.

A corrida é, ainda assim, de profundidade. Para já, Passos Coelho prefere falar dos incêndios que assolam o país. “Custa que, ao longo de quase dois meses, poucas ou nenhumas lições tenham sido tiradas”, disse à chegada ao calçadão, acrescentando que o Governo está a passar uma “imagem de profundo desespero na forma como não está a conseguir lidar com a situação”.

O discurso do líder do PSD será depois do jantar. À mesa serve-se vinho alentejano e um sumo, no mínimo, peculiar: “Chispa laranja sem gás”. Sem gás? Veremos.