Comecei por ser jornalista na TVI e no Semanário, depois, “passei para o outro lado”, para a comunicação empresarial, marketing, gestão de crise e comunicação política. Acabei por ser “arrastada” para o lado digital e para a comunicação nas redes sociais. Em determinado momento fui convidada a ir trabalhar para o departamento de comunicação da L’Oreal, onde estive cinco anos e acabei por gerir a estratégia digital das marcas e a sua relação com os meios. Tinha vontade de avançar com um projeto parecido mas, estávamos em 2011, o mercado estava em crise e ainda não havia uma abertura de mentalidades para ter tudo na ponta do dedo, para aderir aos serviços à distância de um clique. Ainda não fazia sentido avançar. Foi só depois de ter estado este período na L’Oreal, e de ter tido contacto com o mundo da beleza mais a fundo, que achei que estava na altura de, finalmente, criar um projeto próprio.

A Sparkl oferece serviços de beleza ao domicílio: manicure, pedicure e depilação. Vai a casa mas também ao escritório e hotéis. As principais clientes são mães em licença de maternidade, com uma gravidez de risco, ou com filhos pequenos. As senhoras mais idosas e com menos mobilidade também gostam deste mimo e atenção. Olhámos para o mercado e verificámos que não havia quem oferecesse este serviço de forma organizada e num horário tão alargado como o nosso: o primeiro serviço é às 8 da manhã e o último começa às nove da noite – podendo durar até às 23 horas.
Os meus pais sempre foram empreendedores. Este era um mundo que eu conhecia, o que me fez avançar, mesmo com os alertas todos deles. Diziam-me que iria chegar um dia em que não teria ordenado, ou que não teria como pagar aos meus colaboradores. É claro que é tudo ainda muito incerto, mas sentimos uma satisfação maior porque vemos algo que é nosso a ser construído.

Existem pessoas que têm este espírito de querer pelo menos tentar ser empreendedores, nem que seja uma vez na vida. E eu sou assim. Em todo o tipo de empresas exigem-nos trabalhar muito e até tarde…e a determinada altura perguntamos se não conseguimos trabalhar assim para nós. Eu queria muito saber se o conseguia fazer.

Resistir, insistir e celebrar

Ainda ontem estava a constatar com a minha sócia Filipa Mascarenhas (sem ela nada disto teria sido possível!) que chegámos ao momento em que já estamos a fazer formação a cinco profissionais que vão começar a trabalhar connosco. O que isto já cresceu em tão pouco tempo! Estas são as nossas vitórias, os nossos sucessos. Podem ainda não se ver, mas para nós são muito importantes.
Sair de um trabalho numa empresa para criar o nosso projeto com processos e objetivos próprios não é nada fácil. Normalmente, somos formados para trabalhar numa área e toda a nossa experiência leva-nos a ter conhecimento para trabalhar nessa mesma área. Por outro lado, quando montamos uma empresa vamos fazer de tudo, exceto trabalhar naquilo em que tínhamos experiência e formação. Vamos ser contabilistas e fiscalistas, teremos de perceber de direito ou até de call centers – como no nosso caso.

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É claro que também há a ajuda das incubadoras que têm surgido por todo o lado. São um apoio tremendo, pois ajudam a acelerar e a criar redes de trabalho. Permitem que investidores e promotores de diferentes projetos se conheçam e possam trabalhar juntos. É uma forma de chegar mais longe, mais rápido.

Até porque o nível de exigência destes projetos startup é muito semelhante ao de uma multinacional, mas agora ainda damos mais (sobretudo tempo), porque o projeto é nosso e há outras pessoas dependentes de nós. Neste momento tenho cinco pessoas dependentes de mim. Por essa razão, vou dar sempre mais de mim.

É a persistência que nos vai manter no caminho certo. A diferença entre ser empreendedor e estar empregado passa precisamente pela persistência. É a palavra chave neste processo por várias razões: porque sabemos que não vamos ganhar ordenado durante um tempo; porque vamos ter de ser resistentes e aguentar; e porque será necessário mudar o nosso estilo de vida, deixar alguns comodismos, na perspetiva de dar um passo maior à frente. O mais importante é planear bem os passos seguintes. Neste momento, por exemplo, ainda não tenho a certeza de ter o ordenado no final do mês, mas tenho a satisfação de estar a construir algo meu. E isso não tem valor.

Planear e avançar

É claro que também é preciso saber desistir quando vemos que aquele não é o caminho certo. Mas, se o projeto está a dar resultado e os especialistas na nossa área de intervenção ficam surpreendidas com os números, então avançamos, celebramos as pequenas conquistas e aceitamos que não acontece tudo ao mesmo tempo. Precisamos de ter paciência, pensar de uma forma positiva e partilhar os pequenos sucessos com as pessoas à nossa volta. Se o fizermos, elas passam a estar envolvidas e a celebrar connosco, mesmo se apresentavam algum ceticismo no início.

Este núcleo de apoio é essencial, pois ajuda a manter a estabilidade. Se não tivermos um suporte familiar direto, onde os amigos também se incluem, não é possível. Sou casada com um médico, que tem horários exigentes e quando ele não está, acabo por esticar um bocadinho os meus horários. Não tenho filhos, mas a minha sócia tem e o marido dela também tem horários muito exigentes, por isso temos de gerir tudo entre nós, em família. Se a família não estiver “onboard” não é possível.

Sucesso é…

Celebrar todos os passos. Sucesso é termos cinco pessoas – que, na verdade, são cinco famílias – a trabalhar para a Sparkl. É sentir que melhorámos a vida delas, porque conseguimos triplicar o seu rendimento. Para mim, sucesso é isso. É daqui a dois anos ainda existirmos, sermos saudáveis e termos uma rede maior. É ir dando um passo de cada vez e vermos onde vamos parar.

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