“Barbara”

Mathieu Amalric realiza e interpreta um dos principais papéis deste filme sobre a cantora francesa Barbara (1930-1997), cuja reputação ficou praticamente pelos países francófonos, e que pouco adiantará aos não-iniciados. É que “Barbara” não é um “biopic” convencional, muito longe disso. Amalric recorre ao expediente do filme-dentro-do-filme (onde Barbara é interpretada pela angulosa Jeanne Balibar, que além de óptima actriz tem experiência como cantora), a imagens de documentários e filmes (caso de “Franz”, que Jacques Brel rodou em 1972 com e para Barbara) e a testemunhos de pessoas que a conheceram (inclusive o seu biógrafo, Jacques Tournier), algumas das quais aparecem aqui também como personagens, para fazer uma fita fragmentada e impressionista, mais digressiva, opaca e “poética” do que informativa, explicativa e descritiva, que os fãs apreciarão melhor do que o espectador leigo. E através da qual Amalric talvez esteja a querer dizer-nos que é muito difícil, ou talvez mesmo impossível, contar a vida de alguém como Barbara e tentar percebê-la, e à sua arte, através do formato da biografia cinematográfica. “Barbara” ganhou o Prix Louis-Delluc 2017.

“Há Quem as Prefira de Véu”

Martin, filho de refugiados iranianos em Paris, ama a sua colega de universidade Leila e planeiam casar-se e ir para os EUA. Só que os seus planos são gorados quando o irmão mais velho da rapariga, Mohammed, chega do Iémen, onde se radicalizou, e fecha a irmã em casa a sete chaves. Para a conseguir ver e subtraí-la á sua prisão domiciliária, Martin veste uma burca, esganiça a voz e faz-se passar por Xerazade, uma jovem muçulmana fanática. O que ele não esperava é que Mohammed se apaixonasse por Xerazade, vendo nela uma alma gémea enviada por Alá. Lançando mão do transformismo, que tem dado excelentes resultados na comédia, de “Quanto Mais Quente Melhor”, de Billy Wilder, a “Victor/Victoria”, de Blake Edwards, passando por “A Gaiola das Malucas”, de Édouard Molinaro, a realizadora Sou Abadi, iraniana radicada em França, assina aqui uma bem-humorada e ágil farsa que mete a ridículo os fundamentalistas islâmicos, zupando de passagem nos revolucionários laicos, nas feministas idosas e nos universitários politicamente ingénuos.

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“Suburbicon”

George Clooney recuperou um argumento que os irmãos Joel e Ethan Coen tinham escrito nos anos 80 depois do seu primeiro filme, “Sangue por Sangue”, e depois meteram na gaveta. “Suburbicon” era uma comédia negra bastante ensanguentada, passada nos anos 50, num daqueles subúrbios imaculados que então começavam a aparecer na orla das grandes cidades dos EUA, com casas todas iguais, relvados impecáveis, uma igreja, um grande supermercado e algumas empresas, o paraíso dos “baby boomers”, um símbolo da prosperidade galopante do pós-guerra e da era do consumismo de massas nascente. O actor e realizador limpou-lhe o pó, e com o seu colaborador Grant Heslov, acrescentou-lhe à martelada um subenredo “social” de mensagem anti-racista, para puxar pelos seus galões de estrela de cinema progressista. Interpretado por Matt Damon (que substituiu Clooney no papel principal), Julianne Moore e Oscar Isaac, “Suburbicon” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.