Uma promessa é um costume que sugere ideias sobre o futuro e põe a maior parte dos adultos nervosos. De facto, garantir que se fará uma coisa comporta riscos. À medida que envelhecem, as pessoas vão ficando mais supersticiosas e são levadas a imaginar toda a espécie de pequenas ocorrências (torcicolos, mau tempo, um desaire financeiro) que as impedem de fazer aquilo que prometeram. Tal como os juramentos de sangue são sinal de juventude, é sinal de velhice acreditar em motivos alheios à nossa vontade.

Uma criança começa a crescer quando percebe que alguém não cumpriu uma promessa que lhe foi feita. Logo a seguir começa a distinguir entre aqueles que cumprem as suas promessas e aqueles que têm motivos para não as cumprir. Mais tarde, quando já cresceu tudo, nunca irá conseguir esquecer completamente as grandes injustiças que desabaram sobre ela até aos quatro anos.

As nossas teorias sobre promessas acompanham estas mudanças. Provavelmente, a nossa primeira teoria sobre promessas é que são sempre para cumprir. A nossa segunda doutrina sobre promessas, construída normalmente sobre os escombros da primeira, é que para certas pessoas as promessas nem sempre são para cumprir. Mais ou menos na altura de começar a fazer promessas a terceiros aparece uma terceira teoria: a de que nenhuma promessa é para cumprir para sempre. Nesta fase da nossa vida a única coisa filosoficamente interessante sobre promessas são as discussões sobre as ocasiões em que é justificado quebrá-las.

Um filósofo, famoso por ter defendido a primeira teoria mesmo quando já não tinha idade para isso, prometeu uma vez ao seu rei que nunca mais escreveria um certo tipo de livros. Mal o rei morreu foi a correr escrever um livro desses. No prefácio relembrou a promessa que tinha feito e acrescentou, em nota, que tinha feito uma promessa a uma pessoa, a qual naturalmente caducaria quando aquele a quem fora feita morresse. Adivinha-se aqui astúcia.

Não é para admirar. A teoria de que as promessas não são eternas não será a única teoria que toda a gente com mais de doze anos acha que é útil; mas é pelo menos a única teoria que a juristas e filósofos parece razoável. A forma moderna de contrato é inseparável da existência de cláusulas de salvaguarda;  a forma moderna de combinação política é inseparável de estados de excepção; a forma moderna de regra moral é inseparável da descrição da possibilidade de a infringir.

O costume de fazer promessas razoáveis tem vantagens. No entanto há qualquer coisa sombria no facto de que, quando são razoáveis, as promessas são costumes inseparáveis do cálculo das circunstâncias em que podem ser derrogados. Trata-se da ideia sombria de que aquilo que fazemos normalmente não é normal; e da ideia ainda mais sombria de que aquilo em que acreditamos pode ser falso.

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