Puyol. O cabeludo, o capitão, o faz tudo que tudo remendou durante épocas no Barça. O que conquistou três Ligas dos Campeões e viu 15 anos passarem com a mesma camisola vestida. Melhor, com duas, a roja de Espanha, a seleção na qual ainda foi a tempo de viver o auge no cimo de dois Europeus (2008 e 2012) e um Mundial (2010). Esse mesmo, resolveu esta quinta-feira dizer adeus.

Aos 36 anos, o teimoso joelho direito de Carles Puyol não o deixa continuar. Nunca parou de lutar e foi superando as 37 lesões que o prenderam durante a carreira – e lhe deram duas artroscopias ao joelho. “Quero que o meu corpo descanse para recuperar”, desabafou. “Não para jogar noutro lado”, garantiu, mas “para ter uma vida ativa normal, que agora”já  não [conseguia] ter”

Normal fora do relvado, pois, lá dentro, Puyol tudo fez para não o ser.

Com tantas taças e honras conquistadas – “foram muitos títulos”, lembrou -, o capitão do Barça não se despediu sem dizer que “o mais importante” que leva consigo “é a parte humana”. Com seis ligas espanholas, três Mundiais de Clubes ganhos e duas Copas do Rey, Carles Puyol recuou a 2011 para ir buscar o melhor momento da carreira. E aconteceu longe do relvado.

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Em maio desse ano, o clube catalão trepava até ao cume da era-Guardiola. No Estádio de Wembley, o Barcelona vencia a segunda Liga dos Campeões com o hoje treinador do Bayern de Munique e, quando o árbitro dá o último apito, já o capitão tinha uma ideia na cabeça – fazia questão que fosse Eric Abidal a erguer a taça. “Ainda hoje me recordo quando, em Wembley, me disse que tinha que ser o Abidal a levantá-la”, recordou Xavi, esta quarta-feira, quando discursou na despedida do amigo.

E assim o foi. Abidal, que em março fora operado devido a um tumor no fígado, recuperou a tempo para jogar os 90 minutos dessa final, dois meses depois. Puyol há muito que decidira entregar ao internacional francês o momento de sonho de qualquer jogador. Retirou a braçadeira, colocou-a no braço do gaulês, deu um passo ao lado e deixou-o ser o primeiro a levantar a taça no púlpito do estádio. “Foi o melhor momento da minha carreira”, assegurou Puyol, esta quinta-feira.

Em 2013, fez o mesmo em pleno Camp Nou, quando incumbiu Tito Vilanova (que fora já operado a um tumor na glândula parótida) e Eric Abidal de levantaram o troféu da liga espanhola diante dos adeptos catalães.

Quinze anos e 23 taças erguidas

Na primeira equipa do Barcelona, a carreira começou há 15 anos. A 2 de outubro de 1999, foi um holandês a atirá-lo para o relvado quando Louis Van Gaal decidiu dar a primeira oportunidade a Puyol. “Sempre positivo”, foi o elogio que o treinador lhe deixou, no vídeo de homenagem exibido durante a sua despedida. Quem saiu do relvado nesse dia para Puyol entrar? Simão Sabrosa. E Pep Guardiola ainda era o capitão.

Aí arrancou uma caminhada com 593 jogos oficias. À sua frente fica apenas Xavi (que vai com 709), que consigo compartilha os 23 títulos conquistados em 15 anos. “Estou orgulhoso de termos tido uma carreira juntos e seria uma honra partilhar contigo um projeto no clube”, revelou Xavi, que esteve quase sempre esteve também ao lado de Puyol nos 99 encontros que o catalão fez na seleção espanhola.

Para trás deixa o exemplo. De “um guerreiro”, aos olhos de Daniel Alves, de “um mito”, como lhe chamou Fernando Hierro, antigo capitão do Real Madrid, ou de “um jogador que sempre colocou o grupo acima de tudo”, segundo Johan Cruyff. Até ele viajou até Barcelona para se despedir de Puyol – o holandês, que treinou o Barça durante oito temporadas (de 1988 a 1996), está desde 2010 amuado com o clube.

Treinar, de resto, é o que Puyol não se vê a fazer. “Não é o que mais gosto, mas talvez mude de opinião daqui a uns anos”, explicou, inclinando-se antes “o futebol de base”. Ou seja, para La Masia, a escola de formação do Barça, onde começou a correr com 17 anos e só agora vai parar.

Não desvendou se o joelho o deixará ter minutos no sábado, em Camp Nou, quando o Barça receber o Atlético de Madrid para decidirem quem acaba a época com a liga espanhola conquistada. Dito de outra forma, a partida tornou-se agora uma outra final – para dar o 24.º título a Carles Puyol.

https://www.youtube.com/watch?v=dlZBIO59edI#t=314