Ideias. Foi o que faltou à Bélgica na estreia neste Campeonato do Mundo. A seleção de Marc Wilmots tremeu, não sabia como assumir o protagonismo. Esta equipa parece ter problemas para desmontar defesas que gostam de ficar atrás à espera. Wilmots decidiu então mexer na equipa e os dois suplentes, Mertens e Fellaini, acabariam por virar o marcador. Os heróis da primeira jornada conquistaram o lugar na equipa titular para o duelo com os russos.

Rússia – Akinfeev, Kozlov, Berezutskiy, Ignashevich, Kombarov, Fayzulin, Glushakov, Kanunnikov, Shatov, Samedov, Kokorin.

Bélgica – Courtois, Alderweireld, Van Buyten, Kompany, Vermaelen, Witsel, De Bruyne, Fellaini, Hazard, Mertens, Lukaku.

A Rússia procurava também corrigir a pálida imagem que deu na primeira jornada diante da Coreia do Sul. Kerzhakov marcou o golo do empate, depois daquele frango de Akinfeev, mas continua sem merecer um lugar no 11 de Fabio Capello. A única vez que se encontraram num Campeonato do Mundo ofereceram um belo espetáculo de futebol com cinco golos. A Bélgica ganhou 3-2 e Marc Wilmots, o atual selecionador dos diabos vermelhos, até marcou. Van Buyten, titular esta tarde na defesa belga, também esteve presente nessa partida.

A partida começou com ritmo, bem disputada a meio-campo. As duas equipas estavam a pressionar em cima e com ambições de, sempre que possível, seguirem a alta velocidade para a baliza rival. O primeiro lance de perigo saiu do pé de Fayzulin (11′), ao qual Courtois respondeu com qualidade. Bom remate do russo de longe. A resposta chegou dois minutos depois: Kevin de Bruyne deixou tudo para trás e lançou na direita Mertens, que tentaria encontrar Lukaku na área… valeu Glushakov a cortar já na pequena área. O jogo no Maracanã estava agitado e prometia. Havia espaço para jogar e duas equipas com a vitória em mente.

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A toada manteve-se durante a primeira parte. Mertens acelerava, os russos tentavam responder. A grande perdida deste primeiro tempo pertenceu a Kokorin. O lateral esquerdo Kombarov subiu no terreno e sacou um cruzamento à Beckham (mesmo!). O destino era Kokorin, mas o cabeceamento tímido do avançado perpetuaria o empate no Maracanã. Apesar do zero-zero, estávamos a observar a um bom jogo.

A segunda parte chegou e com ela chegou a desilusão. O ritmo baixou, as jogadas a grande velocidade também. Mertens abrandava, Hazard não aparecia. Witsel e Fellaini não sabiam guardar a bola e mandar no jogo. Lukaku continuava a figurar como a desilusão maior, logo ele que marcou dois golos no último duelo contra a Rússia: 2-0 num particular, em 2010. Mas o seu eclipse não ficava por aqui: em 115′ minutos de Mundial, o avançado do Chelsea só tocou na bola dentro da área rival uma vez. Uma. O canhoto acabaria por ser substituído por Origi (57′), um rapaz de 19 anos que marcou cinco golos na Ligue 1 ao serviço do Lille.

A Rússia entrou melhor para o segundo tempo e passou a controlar mais a bola. O único lance de perigo até aos 77′ pertenceu a Glushakov, mas o remate sairia longe do alvo. A boa jogada nasceu do corredor direito. Aos 81′, os russos estiveram muito perto do golo. A jogada foi de Shatov, que ofereceu na direita para Eshchenko, mas o remate do lateral acabaria por passar muito perto do poste direito de Courtois.

Esta Bélgica continuava a desiludir, pois não sabia como guardar a bola e jogar de forma apoiada, posicional. Sente-se muito mais confortável a jogar em contra-ataque, com Mertens, Hazard e Bruyne em destaque. Isso foi o que aconteceu na primeira parte quando o jogo estava mais partido e mexido. Na segunda a Bélgica desapareceu e valeu-lhe a boa atitude na hora de defender. Estranhava a ausência em campo de Kerzhakov, o autor do golo russo contra a Coreia. Afinal, esta Rússia deveria forçar a defesa belga, não só porque estava melhor no jogo mas porque já havia perdido dois pontos na estreia.

Kevin Mirallas entrou aos 74′ e não tardaria muito para agitar as coisas. Nem dez minutos depois, a Bélgica beneficiou de um livre direto perto da área de Akinfeev. Mirallas assumiu e rematou ao poste direito da baliza da Rússia. Dois minutos depois, foi Hazard a tentar a sorte. A bola foi desviada pela defesa russa. A Bélgica pressionava a seleção de Fabio Capello, que estava a baixar o rendimento. Os belgas acreditavam que ainda podiam chegar ao golo.

E chegaram. Como? De contra-ataque, pois claro. A tal classe anunciada desta seleção existe, sim, mas quando investem no contra-ataque. A jogada começou desde a área de Courtois, a estrada preferida foi o corredor esquerdo. Origi combinou com Hazard, que voltou a assinar um belo trabalho pela esquerda e devolveu. O avançado do Lille rematou de primeira sem hipóteses para Akinfeev. O apuramento para os oitavos-de-final estava muito perto. Atenção a um dado que explica muita coisa: o golo belga foi o único remate à baliza russa (se esquecermos o de Mirallas ao poste). Outra curiosidade: o terceiro golo da Bélgica no Mundial voltou a ser marcado por um suplente — na estreia foi Mertens e Fellaini a virarem o marcador contra a Argélia.

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Uma coisa é certa: esta Bélgica será sempre mais perigosa nos oitavos-de-final contra equipas que querem mandar no jogo ou discutir de igual para igual. O contra-ataque é, para já, a sua essência e a melhor arma. Portugal, se fizer as coisas bem, irá provavelmente encontrar esta seleção de Hazard e companhia nos oitavos-de-final.