Portugal está “satisfeito” com a nomeação da chefe da diplomacia italiana para liderar a política de relações externas da União Europeia (UE), disse neste domingo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, em Milão.

No final de uma deslocação à cidade italiana, onde participou na reunião informal de chefes da diplomacia da UE e visitou os expositores portugueses na feira internacional de calçado, Rui Machete confessou à Lusa que “já esperava” a escolha de Federica Mogherini para o cargo de alta representante para as Relações Externas e de Segurança da UE, anunciada no sábado.

O ministro português considera que a italiana “vai dar maior importância à chamada política de vizinhança sul” e que é “inteligente” e “simpática”. Além disso, Portugal e Itália têm “boas relações”, recordou. Rui Machete desvaloriza as críticas que têm sido feitas à ministra italiana sobre a sua alegada inexperiência. “Ninguém nasce ensinado, ela tem toda a capacidade para aprender aquilo que lhe faltará aprender, a experiência faz-se fazendo”, sublinhou.

Porém, o cargo “apresenta muitos desafios” e será “uma missão difícil”, já que “a situação internacional é complicada em diversos sítios”, reconheceu, mencionando o conflito israelo-árabe e a ameaça dos fundamentalistas do Estado Islâmico no Iraque e na Síria. E depois há a crise na Ucrânia: “Ela está preocupada, como todos nós estamos, em encontrar pontos de diálogo e discussão com a Rússia”, avaliou, considerando que “não faz sentido nenhum” dizer que Mogherini é demasiado próxima de Moscovo, como alguns têm apontado.

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O que se passa é que a italiana rejeita uma “atitude belicista” para com Moscovo, o que não quer dizer que afaste uma “manifestação de firmeza, que é indispensável”, realçou. “Seria muito mau para a Europa e muito mau para a Rússia se nós, ao longo dos próximos anos, não encontrássemos vias de solução pacíficas e que permitissem um arranjo aceitável para todas as partes”, frisou.

Na despedida de Catherine Ashton do cargo de alta representante, o ministro português afirmou que “é profundamente injusto” que se faça do mandato da britânica uma avaliação negativa. “Culpá-la de que o conflito israelo-árabe se não resolva parece-me manifestamente excessivo”, criticou, apontando como “relevante” a aproximação conseguida entre Ocidente e Irão, no capítulo do nuclear.

Ashton “mostrou competência, prudência, inteligência e conseguiu alguns resultados nalguns dossiês importantes”, avaliou Machete, descrevendo-a como “uma mulher inteligente, sensível, sensata”. O ministro dos Negócios Estrangeiros destacou ainda que foi no seu mandato que se criou, “praticamente do nada”, o Serviço Europeu para a Ação Externa, braço diplomático da UE.