O Belenenses não empatava em Alvalade desde 2009, altura em que travou o Sporting de Paulo Bento (0-0). Deyverson, o avançado brasileiro do Belenenses, quase imitou Matateu na década de 50. Nani continua a subir de forma e foi o melhor leão em campo.

Marco Silva confiou nos mesmos 11 que empataram no Estádio da Luz. Afinal, este era outro senhor dérbi. Com barbas: 73 jogos entre ambos em Alvalade, 57 vitórias para os leões, 11 empates e cinco vitórias para os que vestem de azul. O último triunfo dos do Restelo remonta aos anos 50, altura em que Matateu era o craque — bisou no 2-1.

Lito Vidigal, o homem que salvou o Belenenses da descida na época passada e que este ano arrancou com duas vitórias em três jogos (Penafiel, Nacional), apostou na estreia de Nelson, o lateral com pinta que passou pelo Boavista e Benfica há uns anos. Agora vestiu a pele de médio direito, com a missão de controlar as subidas de Jefferson. Para o lado de Bruno China no meio-campo, entrou Pelé, um médio de 22 anos formado em Belém. Este rapaz foi vicecampeão do mundo sub-20 em 2011: jogou no meio-campo com Danilo Pereira (atualmente no Marítimo) e Saná (Sp. Braga) na final contra o Brasil (2-3). Oscar, o craque do Chelsea, marcou os três golos. Depois da Copa da garotada, Pelé assinou pelo Milan.

A primeira parte não foi espetacular. O Sporting ainda vai sofrendo de falta de ideias no ataque. Mas, antes de mais palavras, há um primeiro sinal claro: Nani e William estão a subir de forma. Depois de um começo ameno, o primeiro a ameaçar as redes inimigas foi Sturgeon, um miúdo de 20 anos que chegou dos Pescadores da Costa da Caparica em 2009, na altura para os juvenis. Tem pedalada para dar e vender, e toca bem na bola. O remate forte, cruzado, saiu perto do poste direito de Rui Patrício.

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Depois o Sporting foi tomando conta do jogo, enquanto os visitantes mostravam muitas dificuldades para montar um contra-ataque. Os leões começaram então a esticar as garras e começaria o show de Matt Jones, o inglês que chegou a Portugal em 2009 para o Santa Clara. Jogava no Sacred Heart Pioneers, nos Estados Unidos. Primeiro defendeu o remate de Nani. Depois foi a vez de Slimani tentar. E um minuto a seguir, travou o de William Carvalho. Este último foi o momento da noite. Que voo. Quando eles engatam…

Mas, aos 26′, a bola acabaria por deixar-se ser abraçada pelas redes de uma baliza. Foi Deyverson, um brasileiro de 23 que chegou para o Benfica B em 2012. O nome deste avançado é curioso: Deyverson Acosta. Por isso, faz sentido ver um Acosta a marcar golos em Alvalade. Bom cabeceamento do brasileiro.

O Belenenses continuou com limitações a sair com a bola no pé. E seria assim que o Sporting empataria (35′). Bruno China falhou o passe para o central Gonçalo Brandão e Carrilo, até aqui um fantasma no jogo, aproveitou para empatar. Alvalade respirava fundo.

O intervalo chegaria sem que nada acontecesse digno de registo. Carrillo e Adrien desiludiram neste primeiro tempo. Se isso no primeiro não surpreende ninguém, do segundo já é diferente, pois se espera tudo. É o motor desta equipa. Ou deveria ser. Nani está a subir de forma e, mesmo com várias decisões erradas, assumiu e tenta levar o Sporting para a frente. Já dos laterais do Sporting, Jefferson e Esgaio, esperava-se mais envolvimento no ataque.

A equipa da casa até entrou bem para a segunda parte. Com mais ritmo, mais convicção. Mas Matt Jones continuava sem ter motivos para suar. Bom, na verdade até foi Rui Patrício a brilhar neste arranque (57′). Miguel Rosa, com um passe de alto gabarito, deixou Deyverson isolado. Para ser o herói, bastava-lhe galgar vários metros e enganar o guarda-redes português. Mas não enganou. Matateu, onde quer que esteja, piscou-lhe o olho e disse-lhe que não é para todos bisar em Alvalade.

Fredy, Capel e Carlos Mané foram os primeiros trunfos a saltar do banco. Este último é um jogador muito interessante, que, mais cedo ou mais tarde, terá a sua oportunidade na equipa titular. Carrillo e André Martins, que, apesar de fazer algumas boas triangulações, não é influente como se pede na zona 10, têm de subir o nível, senão arriscam-se a saltar do 11. Mané tem tudo: ginga, velocidade, ousadia e diverte quem o vê. E tem a estrelinha do seu lado: resolveu contra o Arouca depois da hora.

O ritmo da partida abrandou e começava a sentir-se a ansiedade. A dez minutos do fim, Marco Silva trocou Maurício por Montero. Era tempo de arriscar tudo. E, embalados pelo talento do TGV Nani, os leões começaram a empurrar os de azul para o seu canto. O Belenenses defendia com 11 jogadores nos últimos 30 metros. Nani fazia de abre-latas. O talento do extremo é incrível, mas nem sempre era acompanhado pelos colegas. Que o diga Slimani…

William e Slimani, em dose dupla, voltariam a ameaçar a baliza de Jones, mas sem sucesso. Quando o ponteiro do relógio já namorava os 90′, Jefferson viu o segundo cartão amarelo e foi para a rua. O Sporting forçou, forçou, mas nada. Os do Restelo, recompensados pela correria coletiva e uma defesa com um coração grande, levariam um ponto para casa.

Ao quarto jogo, o Sporting empata pela terceira vez. As contas não estão famosas e a implacável Liga dos Campeões está aí. Não é uma boa altura para crises de confiança. Veremos como Marco Silva dá a volta à coisa…