À esquerda, volver. Ou trocar. Primeiro, a culpa de um cartão vermelho com uma semana de idade: Jefferson ficou em casa. Na ponta canhota da defesa do Sporting, portanto, aparecia Jonathan Silva, o argentino que ficou a dever um gracias à expulsão do brasileiro. Uns metros à frente, não estava Carrillo. Era Diego Capel, espanhol que nem pensa em tocar na bola com a bota direita. Daquele lado, só novidades após a desfeita que a equipa trouxe de Maribor.

E foi daí, do bombordo verde e branco, que os leões se começaram a ver livres da desilusão que, a meio da semana, trouxeram da Liga dos Campeões. Foi lá, à esquerda, que Slimani fez uma visita, aos 10 minutos: encostou-se à linha, deixou um deserto no meio e pediu a bola. Ela chegou-lhe, dominou-a e depois passou-a para o meio, onde aparecia Adrien a pisar o terreno que o argelino deixara vazio. O médio transformou a bola em bomba, rebentou-a a 20 metros da baliza e os estilhaços acabaram na baliza. O 1-0 madrugava e aparecia quando o Gil só tinha dez homens em campo — Luan estava de fora, a receber uma ligadura na cabeça.

Gil Vicente: Adriano; Jander, Evaldo, Gladstone e Gabriel; Luan, Luís Silva e César Peixoto; Caetano, Diego Valente e Marwan.

Sporting: Rui Patrício; Jonathan Silva, Sarr, Maurício e Cédric; William Carvalho, Adrien e João Mário; Nani, Diego Capel e Slimani.

Adrien marcava o primeiro golo no campeonato — sem ser de penálti, que lhe deu sete na época passada –, e dava cedo uma boa notícia à equipa, que assim podia tranquilizar. E mais: podia aventurar-se e ser atrevida. Porquê? O Gil Vicente deixava. Era o que parecia, tantos eram os passes, curtos e rápidos, que João Mário e Adrien iam levando até Nani, que se encarregava depois de cruzar para a área ou continuar na senda do tricô de passes.

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O trio de médios do Gil era como uma manteiga aquecida à espera de uma faca. Não pressionava, perdiam os ressaltos de bola e não atinavam com as fugas dos adversários. E o Sporting aproveitava. Aos 12’, Adrien rouba a bola a Luís Silva, um dos médios do Gil, e deixa-a em William, que a passou para Nani. O craque recebe, tocou-a de cabeça para Adrien, que a devolveu de calcanhar ao homem dos saltos mortais — quando marca um golo. E marcou, após rematar à entrada da área do Gil. 2-0.

Esta relação no marcador tornou-se séria. Colou e ficou. Não que o Sporting assim o quisesse. Até ao intervalo os gilistas não acordaram. Só aos 40’ é que lá apareceu uma bola cruzada por Diogo Valente, para a área, forte e tensa, que a cabeça de Maurício impediu que chegasse a alguém. De perigoso não teve nada, mas foi a única vez que a equipa de José Mota cheirou a fronteira da baliza de Rui Patrício — que cumpria o 200.º jogo no campeonato com o Sporting.

O resto eram os leões a jogarem. E bem. Muitos passes, jogadas ao primeiro toque, tudo a mexer e a bola farta de chegar à baliza do Gil. Aos 25’ até lá podia ter entrado, não fosse Slimani a desperdiçar um passe de João Mário que o deixou a cavalgar sozinho até à baliza de Adriano, que defenderia o remate do avançado argelino. Era o primeiro dos presentes que o médio dava ao avançado, que preferiu não o desembrulhar.

E foi ele, João Mário, que na segunda parte continuou com a tesoura e o papel de embrulho a montar as jogadas do Sporting: mexia-se por todo o lado, descomplicava as coisas, tocava em passes simples e era a escala que a bola precisava para chegar a Slimani e à baliza. Os leões, após o intervalo, não receberam a mesma cerimónia do Gil Vicente — a equipa de José Mota ativou-se um pouco, pressionou mais e não deu tanto espaço. Aos 56’, num canto, até Marwan saltou sozinho, diante de Rui Patrício, mas a bola que cabeceou passou pouco por cima da barra.

O Sporting, mais calmo, ia rondando os 65% de posse de bola. Não a levava tanto até à baliza do Gil, mas quando o fazia era a sério, e com a eficácia que tanto faltara em Maribor. O 3-0 apareceu quando João Mário simplificou a maneira de fazer chegar outro presente a Slimani: recebeu um passe do argelino, esperou que o avançado se mexesse e devolveu-lhe uma bola que só pedia que Slimani a rematasse. Presente aceite.

O médio ainda tinha mais um para oferecer. Fê-lo aos 83’, quando Nani lhe devolveu um passe a meio de um contra-ataca acelerado e, já dentro da área, João Mário disse a Carrillo para ser ele a fazer o 4-0. O peruano obedeceu, marcou o seu 3.º golo na liga e fechou o resultado. “Titularidade é o trabalho diário, todos estamos aqui para o mesmo”, resumiu João Mário, no final, após uma hora e meia em que deu muita coisa que André Martins, por norma, não oferece.

Quem nem aqui voltou a dar golos ao Sporting foi Fredy Montero. O colombiano jogou 17 minutos, cruzou, passou e rematou, mas não conseguiu marcar no estádio que viu os últimos golos que assinou no Sporting — já foi a 8 de dezembro de 2013 que dez o dois golos da vitória dos leões em casa do Gil Vicente. E coisa que não muda é também a versão que a equipa de Barcelos apresenta esta época: quatro jogos, um empate e três derrotas no campeonato. Já lá esteve João de Deus, agora é José Mota a dar ordens, e algo terá de acontecer para o Gil remediar o caminho.

Algo que João Mário ajudou a fazer no Sporting. A equipa venceu, marcou quatro golos, não apanhou sustos e, sobretudo, mostrou pela primeira vez esta temporada um futebol que seguro e com pés e cabeça durante hora e meia. À desilusão de Maribor seguiu-se um passeio em Barcelos.