Um central. O que é isso? Por norma, é um homem que tem outro igual ao lado. Com a mesma e principal missão: mascarar-se de muralha e tentar tapar os caminhos para a baliza que está atrás de si. Como um par de cadeados que tentam manter trancada uma porta enquanto outros a tentam abrir. Isto quando os outros têm a bola. Quando é a sua vez, a prioridade é não complicar e passar a bola a outros da equipa que sejam mais capazes de a manusear. Ivan Marcano sempre foi isto. Uma versão espanhola e canhota de um defesa central. Até chegar ao Porto.

FC Porto: Fabiano; Danilo, Maicon, Bruno Martins Indi e Alex Sandro; Ivan Marcano, Óliver Torres e Hector Herrera; Brahimi, Cristian Tello e Jackson Martínez.

Sporting de Braga: Wallace; Fabiano, Aderlan Santos, André Pinto e Tiago Gomes; Danilo, Pedro Tiba e Ruben Micael; Rafa, Pardo e Zé Luís.

Agora não. Julen Lopetegui, o treinador basco que manda e dá ordens, quis experimentar uma coisa. E disse a Marcano avançar uns metros, dar uns passos em frente e colocar-se a trinco. De repente, um homem que se habituou a dar sempre a bola a médios, a pés mais com mais perícia para a tocar, passar e conduzir, tinha que ser ele a mexer-se e a filtrá-la para o ataque. Primeiro do Lviv, quando a Liga dos Campeões fez os dragões jogarem contra o Shakthar Donetsk. E agora frente ao Sporting de Braga, para o campeonato.

Marcano, sozinho, safa-se bem. Não complica, faz passes simples, sem inventar, e ajuda tudo e todos a defender. Mas o resto da equipa não se habituou a ele. O espanhol é uma peça que não estraga, mas emperra um jogo que Lopetegui quer de muitos passes e de jogadores a mexerem-se à procura da bola. E isso notou-se. Na primeira parte viram-se passes errados, tabelas falhadas, perdas de bola e os jogadores do FC Porto a sucumbirem à pressão de Rafa, Pardo, Ruben Micael e Pedro Tiba, homens do Braga que queriam roubar bolas logo à frente da linha do meio campo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Conseguia-o várias vezes. A culpa não era de Marcano, mas o jogo dos dragões não fluía como de costuma e perdiam bolas como nunca. Aos 12 minutos, uma delas deu um remate a Ruben Micael. Não acertou na baliza. Logo a seguir, Alex Sandro, sem que ninguém o chateasse, errou um passe e meteu a bola no careca madeirense do Braga, que a passou para Zé Luís, que corria sozinho para a baliza. O cabo verdiano, porém, quis simular um pontapé e perdeu a bola. Marcano, a atacar, era estático. Pouco se mexia. Só Herrera e Óliver o faziam, mas eram poucos para conseguir desmontar um cerrado meio campo bracarense.

Sem o carrossel a funcionar, restava olhar para as pistas de velocidade. Ou seja, para as alas, onde estavam as arrancas e fintas de Brahimi e Tello, que davam a alternativa para o FC Porto chegar à baliza dos minhotos. O argelino e o espanhol eram os únicos venenos para os quais o Braga não arranjava antídoto, e era por eles que se atacava. E Tello até se fartou de correr aos 25’ quando, ao terceiro canto seguido que bateu — sempre em lados diferentes — Maicon desviou a bola ao primeiro poste para, ao segundo, Bruno Martins Indi a rematar para a baliza. Mesmo sem jogar como de costume, o golo aparecia. 1-0.

Mas a vantagem desapareceria pouco depois. Porquê? Pois a equipa continuou a errar. Aos 32’ foi a vez de Brahimi que, talvez preocupado em não perder a bola, a passou para trás sem acertar a mira. A bola não foi direta a Indi, o holandês que teve de discutir e perder um ressalto com Zé Luís, cabo-verdiano que, depois, à frente de Fabiano, rematou a bola em jeito e empatou. 1-1, e o FC Porto era castigado por tanta distração. Até ao intervalo não se concentraria. O Braga continuou a recuperar muitas bolas e a ultrapassar barreiras quando tinha de contra atacar. Mas, à falta de passes certeiros e posse de bola estável, os dragões recorreram ao esforço, vontade e intensidade a fazer as coisas. E isso ia chegando para chegarem à baliza minhota. E abanarem-na.

Aos 40’, um remate de Danilo fez a bola bater contra a barra. Quase. Três minutos depois, um livre de Tello deu a Maicon a hipótese de cabecear a bola contra as mãos de Wallace. O brasileiro atirou-se para a frente, onde Jackson inventou um pontapé acrobático para rematar a bola que só o peito de Aderlan Santos evitou que entrasse na baliza. Chegava o intervalo e tinha-se visto de tudo: os portistas a falharem passes como nunca, os bracarenses a incomodarem muito e até Nelson Puga, médico do FC Porto, a escorregar, cair e lesionar-se quando corria pelo relvado para ir ao socorro de Jackson Martínez.

Tudo para Lopetegui ver — e perceber que estava tudo mal. Afinal, no banco, ao seu lado, tinha Rúben Neves, o miúdo de 17 anos em quem já tanto confiara para ser trinco. E Quintero, o colombiano no qual pouco apostara, mas que inventa caminhos para a bola seguir. O treinador tirou Herrera e Marcano do campo e foram estes que entraram para a segunda parte. E se a primeira foi o dia, esta foi a noite. A equipa melhorou, muito, e, pelo menos a atacar, já conseguia fazer o que pretendia com a bola.

Rúben Neves e Óliver preocupavam-se em pedi-la perto da defesa. Não a perdiam, viravam-se para a outra baliza e faziam-na chegar a Quintero, Brahimi e Tello. Rápido e sem errarem. O carrossel já girava e chegava a Jackson, que aos 50’, à entrada da área, rematava a bola com efeito e a falhava por pouco a baliza. Depois, aos 59’, o golo aparecia. E tudo começou em Fabiano, guarda-redes que bateu um pontapé de baliza, a bola pingou na cabeça de Jackson e foi para aos pés de Brahimi, na esquerda. O argelino avançou e passou-a para Quintero, que na área a dominou, ajeitou para o pé esquerdo e rematou para marcar. 2-1, e as alterações rendiam.

Os dragões, agora, sim, já se aproximavam dos 70% de posse de bola. Via-se velocidade e acerto no passe. A defender, contudo, as coisas, às vezes, continuavam tremidas. E aos 62’ o que tremeu foi o poste da baliza de Fabiano, após a barreira de jogadores que estava à sua frente abrir brechas e deixar a bola rematada por Aderlan Santos, no livre, chocar contra o ferro. Depois, em duas recargas, Pardo viu o guardião portista defender, primeiro, e, depois, rematou a bola por cima da baliza.

Foi o melhor que o Braga fez para tentar empatar. Os contra ataque continuavam a sair, mas as pernas de Pedro Tiba e Rafa, as locomotivas que empurravam a equipa para a frente, começaram a cansar-se. Pelo meio, Quintero, sem correr muito, ia distribuindo bem as bolas que lhe chegavam aos pés e mantinha a bola a girar. As tabelas junto à área minhota sucediam-se, mas a defesa do Braga foi conseguindo cortar as tentativas. Aos 87’, um remate de Tello ainda assustou Wallace e, três minutos depois, Éder, do outro lado, cabeceou a bola para as mãos de Fabiano.

O encontro terminou e os dragões suspiraram. Ao fim de três empates consecutivos, o regresso às vitórias. Sim, mas à força. E a custo de uma invenção que Lopetegui soube corrigir e esperar que a solução surtisse efeito em 45 minutos. Resultou. Mas, uma vez mais, uma equipa minhota voltou a chatear e muito o FC Porto — após o empate (1-1) frente ao Vitória, em Guimarães. O treinador espanhol gostar de rodar, de meter rotatividade na equipa e tornear o cansaço. Voltou a experimentar Marcano a trinco com Rúben Neves disponível. Mas só quando o segundo jogou em vez do primeiro é que conseguiu sorrir.