Kobane, uma cidade síria localizada na fronteira com a Turquia, considerada um ponto estratégico no combate aos jihadistas do Estado Islâmico, pode estar prestes a ser capturada. De acordo com a BBC, foi vista uma bandeira do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) no cimo de um edifício, no lado leste da cidade. Idriss Nassan, um militar sírio curdo, confirmou à BBC que o ISIS controla a área de Mistenur, uma colina estratégica, nas costas da cidade.

A cidade tem sido campo de combates intensos nos últimos três dias, enquanto uma milícia curdos sírios tenta defender a cidade. O cerco do Estado Islâmico já decorre há três semanas. Desde então, mais de 160,000 sírios, principalmente da etnia curda, passaram a fronteira. A captura desta cidade iria dar ao ISIS o controlo de uma área extensa da fronteira síria com a Turquia.

No dia dois de outubro, o parlamento em Ancara votou uma moção que autorizou o governo a intervir na Síria e Iraque, mas, até agora, não interveio diretamente nos combates a decorrer nos arredores da cidade fronteiriça. Os cidadãos turcos de etnia curda têm sido muito críticos sobre a passividade do governo turco, no combate ao Estado Islâmico. Segundo a revista norte-americana Newsweek, o governo turco está relutante em apoiar as forças curdas no combate em Kobane, porque estas são aliados do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), ativo no Iraque e na Turquia – uma organização de extrema-esquerda que tem como objetivo principal a criação de um Estado curdo. Cerca de 22% da população turca é de etnia curda. Para o Governo Turco, União Europeia e EUA, o PKK é uma organização terrorista.

Centenas de curdos turcos têm acorrido à área fronteira onde decorrem os combates para tentarem ajudar os “irmãos sírios”, conta a BBC. Alguns tentam contrabandear armas pela fronteira ou infiltrarem-se no campo de batalha. A relação de desconfiança entre a população curda e o Estado turco já existe há algumas décadas e isso não ajuda a que o governo turco se decida a intervir numa ação onde irá, inevitavelmente, proteger cidadãos curdos. Até que ponto é que este confronto no terreno pode obrigar o exército de Ancara a apoiar o, na prática, o PKK é a dúvida que subsiste. Já em agosto a DW tinha noticiado que alguns políticos alemães equacionaram pedir à União Europeia a possibilidade de armar o PKK — precisamente para combater o ISIS.

Durante a noite de domingo, ouviram-se diversas trocas de tiros, escreve a BBC, e surgiram grandes nuvens de fumo, provenientes da cidade. Idriss Nassan explicou que, em teoria, os jihadistas têm uma enorme vantagem estratégica, mas que até agora não desceram a colina. Mas, quando questionado se a cidade de Kobane vai ser capturada em breve, disse: “Sim, de certeza que em breve vai cair.” Esmat al-Sheikh, responsável militar pela defesa de Kobane, disse à agência Reuters: “Se eles entrarem [na cidade], vai se tornar um cemitério para nós e para eles. Nós ganhamos ou morremos. Vamos resistir até ao final.” No domingo, uma mulher curda, num ataque suicida, “matou uma série de militantes do ISIS”.

Na sexta-feira passada, Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos da América, criticou a Turquia e outros países aliados no mundo árabe por apoiarem grupos militantes sunitas como o Estado Islâmico. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, não deixou passar esse comentário: “Ninguém pode acusar a Turquia de ter apoiado qualquer organização terrorista na Síria, incluindo o Estado Islâmico.”

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