Trabalhos pesados, casamentos forçados e violência sexual. As raparigas e mulheres raptadas pelo grupo islamita Boko Haram que conseguiram escapar descrevem um cenário de terror sob o jugo dos combatentes que controlam zonas do norte da Nigéria.

Num relatório publicado pelo Human Rights Watch, intitulado “Those Terrible Weeks in their Camp” (“Aquelas terríveis semanas no campo deles”, em tradução livre), o grupo de direitos humanos afirma que já terão sido raptadas pelo Boko Haram cerca de 500 raparigas e mulheres na Nigéria desde 2009. O documento agora divulgado foi feito com base em testemunhos de 12 das reféns que conseguiram libertar-se, depois de terem sido levadas das suas aldeias 276 mulheres em abril.

Um dos motivos que levou o grupo extremista a sequestrar as raparigas foi o facto de estas irem à escola, uma prática que o Boko Haram – nome que significa “a educação é pecado” – acredita não ser apropriada para mulheres, de acordo com as leis islâmicas.

“Aha! Estas são as pessoas de que andamos à procura. Então são vocês as teimosas que insistem em ir à escola, quando nós já dissemos que ‘boko’ [educação] é ‘haram’ [pecado]. Vamos matar-vos já aqui”.

Foi isto que uma das raparigas contou ao Human Rights Watch como tendo sido algo dito por combatentes quando estes perceberam que ela e as suas amigas se estavam a deslocar para a escola. Em 2012, num vídeo, Abubakar Shekau, o líder do Boko Haram, entretanto morto, dizia que os raptos de raparigas eram uma retaliação contra o facto de o governo nigeriano ter detido membros das famílias de combatentes do grupo.

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Outra queixa das sequestradas é serem forçadas a casar, mesmo quando são menores de idade. Quando uma rapariga de 17 anos se queixou de ser muito nova para casar, ter-lhe-ão respondido, apontando para uma menina de apenas cinco anos: “Se ela casou no ano passado e está apenas à espera da puberdade para a consumação, como é que, na tua idade, podes ser demasiado nova para casar?”.

E, depois de casadas, as raparigas são sujeitas a frequentes violações.

“Ele começou a ameaçar-me com uma faca para ter sexo com ele, mas como eu continuava a recusar ele apontou-me uma arma e disse-me que me matava se eu gritasse. E começou a violar-me todas as noites. Era um homem enorme dos seus trinta anos e eu nunca tinha feito sexo. Foi muito doloroso e chorei amargamente, porque no fim ficava a sangrar”, relatou uma das entrevistadas, de 15 anos.

Apesar de o relatório descrever este cenário, os autores afirmam que o Boko Haram tem feito alguns esforços para que as violações decorram apenas depois desses casamentos forçados. Até porque, denunciam algumas raparigas, é frequente as mulheres legítimas assistirem e apoiarem os maridos enquanto estes violam outras mulheres. A Human Rights Watch pede ao Boko Haram que liberte imediatamente os reféns.