O momento teve pompa e circunstância. As câmaras das televisões e um batalhão de jornalistas acumulavam-se. E o caso não era para menos: a cidade norte-americana de Boston ficou a saber na noite desta terça-feira o que estava dentro de uma cápsula do tempo enterrada em 1795. Encontrada em dezembro passado, a caixa metálica, de cor verde e dimensões reduzidas – semelhante a uma cigarreira – continha jornais, moedas e algumas medalhas. Mas o seu valor histórico é maior do que os objetos que continha: trata-se de uma cápsula do tempo enterrada por Samuel Adams, um dos fundadores dos Estados Unidos da América.

Em 1795, para assinalar o início da construção do novo edifício parlamentar e governamental (statehouse, no original inglês) do estado de Massachusetts, de que Boston é a capital, Samuel Adams, à data governador, colocou a caixa agora redescoberta numa pedra de uma das esquinas do prédio. Foi redescoberta, e não descoberta, porque esta foi já a segunda vez que a cápsula foi encontrada: a primeira fora em 1855, na sequência de obras urgentes nas fundações do statehouse, explica o Boston Globe. Na altura, todos os objetos que a caixa continha foram limpos e catalogados e outros foram acrescentados, tendo a cápsula regressado ao local onde estava enterrada.

Esta terça-feira havia, por isso, duas camadas de História a revelar. Cinco jornais dobrados, 23 moedas (das quais uma datada de 1652), uma medalha com a figura de George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos, documentos da época colonial britânica e uma placa comemorativa da construção daquele edifício em prata. Era este o conteúdo da caixa.

“É para isto que os conservadores vivem”, afirmou Pam Hatchfield, conservadora do Museu de Belas Artes de Boston, que a 12 de dezembro de 2014 desenterrou a cápsula. Tudo começou com umas manchas de humidade na parede de uma cave do edifício governamental que levou a administração a pedir uma análise da situação. Os investigadores descobriram que a pedra onde a caixa estava colocada era propensa a infiltrações de água, pelo que se iniciaram trabalhos para remoção da cápsula, cuja existência está há muito documentada. Foi a própria Pam Hatchfield, ajudada por mais de uma dezena de trabalhadores, que passou sete horas a remover o pequeno objeto do local.

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Depois de recolhida, a caixa foi levada para o museu, onde foi sujeita a testes de raios-x. As imagens revelaram que tudo o que estava documentado em 1855 estava lá, mas algumas coisas suscitaram a curiosidade dos especialistas. Um dos mistérios que ficou por resolver: apareceu uma moeda a mais na caixa que ninguém sabe como lá foi parar.

Finda uma cerimónia com bastante atenção mediática, colocam-se agora algumas questões aos conservadores encarregados de tratar da cápsula. Devem os jornais ser desdobrados ou permanecer como estão? Devem as moedas ser tratadas (estão corroídas) ou não? Deve a cápsula ser recolocada onde estava com objetos do nosso tempo? Para já, as respostas ficam adiadas, bem como a exposição dos objetos encontrados, prevista mais para o fim do ano.