Parecia estar com pressa. Um, dois, três e mais uns quantos passes se fizeram, para testar os primeiros segundos. Tirar os pés de misérias e introduzi-los à bola. Mas este não quis esperar: saiu do centro, começou a correr na diagonal, a corrida transformou-se num sprint e chamou a atenção de Danilo. O brasileiro percebeu e passou-lhe a bola, rasteira, para ele, o mexicano, a cruzar logo, com força, sem abrandar, em direção à área. Nem 60 segundos o relógio contara e já Hector começara à pesca.

O pé direito a servir de cana e a bola como isco. À primeira não deu — o isco de Herrera não encontrou Jackson, o colombiano, a quem nada chegou na área. Foi canto. Uns minutos depois, poucos, o mexicano foi até à meia-lua da área e, desta vez, chamou a atenção de Óliver Torres, que lhe atirou um passe tramado, com a bola cortada e a meia altura. O mexicano tentou embelezar o isco e, sem o deixar cair, tocou-o com o calcanhar e enviou na direção de Martínez. De novo houve um defesa pelo caminho.

FC Porto: Fabiano; José Ángel, Martins Indi, Maicon e Danilo; Casemiro, Óliver Torres e Hector Herrera; Quaresma, Tello e Jackson Martínez.

Belenenses: Ventura; Palmeira, Thicot, Gonçalo Brandão e Nélson; Bruno China, Rodrigo Dantas e Pelé; Miguel Rosa, Abel Camará e Tiago Caeiro.

Herrera insistiu. E à terceira pescaria o alvo colombiano mordeu o isco. Ou cabeceou-o. O mexicano, aos 10, escondeu-se entre Gonçalo Brandão e Nélson, central e lateral, recebeu a bola, levou-a até à linha de fundo e, enganando o defesa central pelo meio, picou-a, levantou-a com jeito, para o ar, e fê-la voar até ao colombiano, que fez o resto. Golo, 1-0, primeiro peixe pescado ao fim de dez minutos de Belenenses tímido e com todos os jogadores a defender atrás da linha da bola.

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Os azuis do Restelo estavam juntos, bem juntos a defender. E, portanto, quando recuperavam a bola, tinha sempre um homem perto a quem passá-la e fugir à pressão que os dragões acionavam quando a perdiam. Mas o Belenenses lançava a sua cana sempre da mesma maneira — bola recuperada era, quase sempre, sinónimo de bola lançada, pelo ar, para Tiago Caeiro, o avançado que ia perdendo duelos com Maicon, o central que lhe dava sombra. Mesmo quando o português guardava a bola para si, Miguel Rosa e Camará, os extremos, demoravam a aproximar-se.

E o FC Porto, mesmo certinho no passe, a seguir o exemplo de Óliver Torres, o miúdo que raro é falhá-los, não inventava mais iscos para pescar. Aos 17’, sozinho, Cristian Tello, na esquerda, ainda rematou para Ventura defender. Depois, até ao intervalo, via-se a bola a viajar pela relva até perto da baliza do Belenenses e, depois, a ser cruzada de uma das alas para a área. O resultado não variava muito: nenhuma bola se voltou a transformar em isco para Jackson Martínez morder. Só o fez aos 39’, quando o cruzamento veio de uma trivelada de Quaresma e, perto do segundo poste, o colombiano saltou e tentou misturar pontapé com acrobacia. O remate não acertou na baliza.

Mas acertar foi o que Óliver logrou assim que o intervalo disse adeus e a bola voltou a rolar no Dragão. Aos 46’, e depois de Herrera, à entrada da área, ver a bola fugir-lhe depois de a fazer esquivar de um adversário, o miúdo (20 anos) espanhol não esperou. Dominou-a com o pé direito e, com o canhoto, rematou logo de seguida. Pelos vistos era Herrera, de novo e sem querer, que dava o isco para Óliver morder — a bola entrou junto ao poste esquerdo e o 2-0 aparecia.

A partir daqui as coisas abrandaram. Os dragões, como qualquer bom pescador, ficaram mais pacientes. Bem mais. As trocas de bola que faziam parecia querer mais guardá-la em companhia azul e branca do que usá-la para atacar a baliza contrária. O Belenenses, a perseguir agora dois golos, arriscou. Fábio Sturgeon, um médio viciado em atacar, aos 55’, entrou para o lugar de Rodrigo Dantas, um ladrão de bolas. A equipa melhorou, cumprimentou mais a bola e passou a ter alguém mais perto de Tiago Caeiro.

Os que vestiam todos de azul chateavam mais quem se dividia entre o azul e o branco. Mas pouco mais. Remates, do Belenenses, não houve nenhum, e a equipa só assustava quando cortava, aqui e ali, um passe que os homens do FC Porto faziam a meio campo. De perigoso, aliás, houve um remate de Tello, aos 68’, quando recebeu a bola perto da quina da área, à direita, a ajeitou para o pé esquerdo e rematou para Ventura a desviar para a barra. E outro de Danilo, aos 74’, que fez a bola passar rápida e com força ao lado da baliza.

De resto, nada mais. O Belenenses bem tentava, mas as pilhas de Miguel Rosa foram-se esgotando, à semelhança de Bruno China e Pelé, que se dividiam em ajudas aos defesas e pouca energia tinham depois para lançar ataques rápidos que pudessem ferir os dragões. Julen Lopetegui, o treinador, avisara que esteve “não” seria “um jogo fácil, não”. Mas acabou por ver a equipa facilitar a vida ao conseguir que dois iscos fossem mordidos no arranque das duas partes do encontro.

Difícil, aliás, só mesmo no fim. Apenas aos 90’+1 é que um azul, neste caso, Fábio Nunes, conseguiu disparar um remate, este fraco e rasteiro, para o guarda-redes Fabiano tocar na bola com as mãos. O mesmo que, no minuto seguinte, rematou dentro da área para o guardião não conseguir agarrar a bola que, depois, só o corpo deitado de Maicon não deixou entrar na baliza, ao tapar o remate da recarga de Camará. Um par de sustos que deu espaço no lago para que o FC Porto lançasse a cana pela última vez. Ou Evandro, que na jogada seguinte quis morder a bola que a defesa do Belenenses deixou à entrada da área e, de primeira, rematou em jeito para fazer o 3-0 — e o seu primeiro golo pelos dragões.

Dois inícios fortes e um final a marcar. Foi assim que os portistas conseguiram pescar três golos do lago que o Belenenses levou ao Dragão e que nunca conseguiu transformar em águas agitadas para o anfitrião. Mais três pontos e a perseguição à liderança prossegue com o Benfica a seis pontos de distância.