Um reformador. Um advogado da paz no Médio Oriente. Um construtor de pontes entre uma das sociedades mais conservadoras do mundo e o Ocidente. É assim que o rei Abdullah da Arábia Saudita, que morreu nas últimas horas de quinta-feira (22h, hora de Lisboa, já era sexta-feira em Riade), será lembrado.

Abdullah bin Abdul Aziz Al Saud terá nascido em agosto de 1924 em Riade, existindo dúvidas sobre a sua verdadeira data de nascimento. Foi o 13º filho – de uma família de 37 – do rei Abdul Aziz Al-Saud, fundador do Estado moderno da Arábia Saudita. O nome da família passou a ser, também, o nome do país, como escreve a BBC.

Recebeu uma educação conservadora e tradicional e tornou-se rei em agosto de 2005 depois da morte do rei Fahd (em 1995 substituiu, brevemente, o monarca Fahd, que sofreu um AVC). Apesar de ter ocupado o trono durante menos de dez anos, Abdullah tornou-se conhecido internacionalmente logo na década de 70 ao criticar a política externa norte-americana no Médio Oriente e ao emergir como um grande defensor da união dos países árabes para contrabalançar o poder do Ocidente.

Em 1980 deu sinais de ser um diplomata, como agora lhe é reconhecido, ao conseguir travar um conflito entre a Síria e a Jordânia. Quando rebentou a primeira Guerra do Golfo, Abdullah era vice primeiro-ministro e opôs-se ao estacionamento das tropas norte-americanas na Arábia Saudita, defendendo antes entrar em contacto com Saddam Hussein. O rei Fahd não teve a mesma opinião.

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Durante o seu reinado, Abdullah foi considerado um reformador, ainda que lento, segundo a BBC. Permitiu alguma oposição ao seu Governo na imprensa e sugeriu algumas vezes que as mulheres deveriam poder trabalhar. Em 2011, passou a permitir que as mulheres votassem e concorressem nas eleições municipais.

Como lembra a cadeia britânica, referindo-se aos direitos das mulheres na Arábia Saudita, Abdullah disse o seguinte, numa entrevista: “Acredito firmemente nos direitos das mulheres. A minha mãe é uma mulher, a minha irmã é uma mulher, a minha filha é uma mulher e a minha esposa é uma mulher”.

Mais recentemente, foi na Arábia Saudita que se reuniram os dez estados árabes que viriam a apoiar os Estados Unidos na coligação internacional contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. A Arábia Saudita concordou treinar os rebeldes moderados sunitas da Síria, o que, segundo alguns analistas, se deve ao interesse do país em depor Assad. A monarquia saudita tem sido uma forte opositora do regime sírio, acusando Assad de suprir violentamente a maioria sunita síria.

Barack Obama reagiu à morte do rei Abdullah, descrevendo a relação entre os dois como “uma amizade genuína e calorosa” e acrescentando: “Como líder foi sempre um amigo verdadeiro e corajoso quanto às suas convicções”.