A bolsa de Atenas está a cair mais de 7% ao fim de uma hora de negociação, depois da vitória do Syriza nas eleições legislativas de domingo, anulando a recuperação encetada na reta final da semana passada. Em simultâneo, os juros da dívida da Grécia estão a disparar para perto de 9% no prazo a 10 anos, um movimento que não está a afetar os outros países da periferia. Nas bolsas de ações, contudo, existe alguma apreensão, com os principais índices em baixa, a aliviar dos ganhos proporcionados pelos anúncios de medidas do BCE no final da semana. Os analistas antecipam tempos de volatilidade nos mercados europeus, porque “o jogo de xadrez [da Grécia com os parceiros europeus] acaba de começar”, diz um especialista.

Durante a campanha eleitoral, Alexis Tsipras, que deverá tornar-se o próximo primeiro-ministro da Grécia, já tinha dito: “sabemos que os mercados estão a torcer para que percamos“. Para já, a previsão de Tsipras está a revelar-se acertada, ainda que a vitória do Syriza já fosse o cenário mais provável tendo em conta as sondagens que saíram nas últimas semanas. Ainda assim, pelas 8h45, a bolsa de Atenas seguia a perder 7,1%, com os restantes mercados acionistas europeus a perderem menos de 1%. Em Lisboa, o PSI-20 desce 0,59%.

Bolsa de Atenas perde um terço do valor em seis meses

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As perdas acentuadas com que abriu a bolsa de Atenas esta segunda-feira elevam para exatamente 33% o “terreno” perdido nos últimos seis meses. Fonte: Bloomberg

Alexis Tsipras tem agora um período de três dias para negociar com outros partidos a formação do governo que irá tomar as rédeas do país. E “assim que um governo for formado, as negociações com os credores oficiais devem arrancar de imediato”, sendo certo que são “muito baixas as probabilidades de que a avaliação da troika que está pendente seja concluída antes do prazo, que é de final de fevereiro”, escreve Paolo Pizzoli, analista do banco holandês ING, em nota enviada aos clientes.

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O mesmo especialista nota que “o próximo governo terá, assim, de pedir uma nova extensão do prazo para o programa e, em paralelo, uma extensão do regime de exceção que está a permitir aos bancos gregos obterem financiamento junto das plataformas de emergência do BCE (ELA). “Desde logo, Tsipras terá de conseguir um equilíbrio delicado entre as promessas eleitorais e a necessidade de atingir compromissos com os credores oficiais”, diz Paolo Pizzoli, acrescentando que “o jogo de xadrez ainda agora começou“.

Os analistas do Rabobank avisam, também em nota enviada esta segunda-feira, que “se a Grécia não continuar sob um programa de assistência externa, isso levará, provavelmente, a que BCE declare a dívida grega como não elegível para as operações de financiamento dos bancos no BCE”, isto é, as obrigações do Tesouro grego deixarem de ser aceites como garantia (colateral) quando os bancos gregos obtêm nova liquidez junto do banco central. “Se isso acontecer, criará o risco de um colapso do sistema financeiro grego“, receiam os analistas do banco holandês.

Nos outros mercados, além das ações, os juros da dívida da Grécia estão a subir em todos os prazos, chegando a quase 9% no prazo a 10 anos – um sinal de que os mercados de dívida estão mais fechados para a Grécia após a vitória do Syriza nas eleições de domingo. Uma vitória que, todavia, não atingiu a maioria absoluta.

Juros da Grécia voltam a subir após vitória do Syriza

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A dívida da Grécia está sob pressão após a vitória do Syriza. Os juros estão a disparar em todos os prazos e a taxa a 10 anos volta a aproximar-se dos 9%. Fonte: Bloomberg

O euro está a subir ligeiramente, 0,3%, mantendo-se próximo dos mínimos de 11 anos para os quais caiu na quinta e na sexta-feira, após o anúncio de um pacote inédito de estímulos anunciado pelo BCE. A moeda única está a valer 1,1257 dólares.