O primeiro-ministro timorense, demissionário no cargo, disse esta sexta-feira à agência Lusa que a sua saída se tornou “uma obrigação moral e política” e que a decisão de se demitir pretende abrir caminho à nova geração.

“Eu não falaria de (momento) histórico, em termos de referir-se a mim, mas em termos de uma decisão que se tornou como uma obrigação moral e política”, disse à Lusa nas primeiras declarações desde que apresentou a sua demissão na quinta-feira.

“Ou agora ou nunca mais e ficava a nova geração demasiado dependente”, afirmou depois de participar num debate político em Díli sobre transição política e liderança.

Xanana Gusmão afirmou à Lusa que prefere o termo “deixar” o cargo de primeiro-ministro do que “abandonar, que tem um significado muito pejorativo”, considerando que o momento é histórico não por sua causa, mas pelo que representa de transição geracional.

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“Histórico, talvez por se considerar que não é normal, mas eu penso que todos compreendem que a decisão foi pensada e refletida com muita profundidade”, afirmou.

“Eu acredito que vai trazer muitos benefícios, se não imediatos a médio prazo as pessoas vão pensar que foi a melhor decisão”, disse ainda.

Questionado sobre se vai continuar o não no Governo, Xanana Gusmão disse que isso “depende do novo primeiro-ministro”, escusando-se a confirmar quem é que ele próprio, como presidente do maior partido timorense, o Congresso Nacional da Resistência Timorense (CNRT), vai indigitar ao presidente da República.

“O presidente depois vai ver”, disse.

Sobre receios, em alguns setores da sociedade timorense, de que a sua saída do cargo possa causar instabilidade, Xanana Gusmão manifestou-se otimista que isso não vai acontecer.

“Eu não acho (que vá haver instabilidade). Por isso é que, na minha intervenção, fiz um apelo para todos estarem calmos, para todos contribuírem da melhor forma”, disse.

“E sobretudo os jornais timorenses para não estarem a especular”, ironizou.

O Presidente da República timorense, Taur Matan Ruak, anunciou hoje ter convocado o Conselho de Estado para uma reunião na segunda-feira, depois de ter recebido, na quinta-feira, a carta de demissão de Xanana Gusmão, segundo informou a presidência.

“Sua excelência o Presidente da República recebeu ontem, dia 05 de fevereiro, ao final do dia, a carta de demissão de sua excelência o primeiro-ministro, Kay Rala Xanana Gusmão”, refere o comunicado de três parágrafos.

“O chefe de Estado deu, por isso, início ao processo constitucional de consulta”, refere ainda.

Além da convocatória para a reunião de Conselho de Estado, “para o exercício das suas competências constitucionais”, o Presidente da República vai ouvir novamente os partidos com representação parlamentar.

O comunicado não refere quando se espera que esteja concluído este processo.

Na carta enviada pelo primeiro-ministro demissionário timorense a que a Lusa teve acesso, Xanana Gusmão explicou que a sua demissão se prende com o “entendimento comum” da necessidade de “uma reestruturação profunda, que permita assegurar, nestes dois anos e meio que restam ao Governo, uma maior dinâmica em termos de eficiência”.