É a lembrança de algo que se perdeu. Ou até o pesar, a mágoa, que surgem quando somos privados de algo. Saudades, em bom português. Dizem que é nossa a única língua do mundo que se lembrou de inventar uma palavra para descrever esta sensação. E saudade de ouvir o hino da Liga dos Campeões, de ver a bola com estrelas a rolar e ter na televisão as melhores equipas da Europa a jogarem foi coisa que durou 69 dias. Desde 10 de dezembro que a Champions estava parada e só na terça e quarta-feira se voltou a mexer.
Até que enfim que o fez. Primeiro viu-se um Chelsea na versão cautelosa, como mandou José Mourinho, a fazer uma visita a Paris e a sair de lá com um 1-1 que sorri mais aos ingleses do que ao PSG. Os blues treinador pelo português só marcaram quando três defesas se uniram para o fazer: John Terry cruzou, Gary Cahill tocou de calcanhar e Branislav Ivanovic marcou o seu quinto golo de cabeça na Liga dos Campeões. Depois, Edison Cavani usaria a sua para empatar.
Ao mesmo tempo, em Lviv, a mais de mil quilómetros de Donetsk, o Shakthar recebeu o todo-poderoso Bayern de Munique e só deixou que o tiki-taka à moda alemã de Pep Guardiola fizesse um remate à baliza. Resultado: 0-0.
Depois, na quarta-feira, foi a vez de outro projeto de futebol de toque, muito passe e bola a rodar de um lado para o outro conseguir dominar um jogo em Basileia. Mas só conseguiu marcar quando a bola parou e ficou quieta — foi de penálti que Danilo fez o golo do empate (1-1) com que o FC Porto saiu da Suíça e evitou perder contra uma equipa que Paulo Sousa montou para defender e tentar aguentar o poderio dos dragões. Na Alemanha, em Gelsenkirchen, viu-se Cristiano Ronaldo regressar aos golos (depois de 300 minutos sem o fazer) e a dar o passe para o outro que Marcelo viria a marcar (2-0).
Com tudo isto houve números, marcas, séries e recordes a serem quebrados. O Observador reuniu alguns dos dados que as quatro partidas pós-pausa de Inverno deram à competição. Como a seca que um avançado leva em jogos contra equipas treinadas por José Mourinho, o acumular de partidas que um clube parisiense regista, sem perder, em casa, ou os golos que Cristiano Ronaldo insiste em ir marcando sempre que tem um jogo fora na Liga dos Campeões.
0
Golos que Zlatan Ibrahimovic conseguiu marcar nos seis jogos em que já defrontou equipas treinadas por José Mourinho. Com o português a treiná-lo, o avançado sueco marcou 28 golos em 46 partidas no Inter de Milão.
1
O FC Porto apenas venceu um dos últimos 13 jogos a eliminar que fez longe de casa, na Champions. Só um remate à baliza foi também o melhor que os jogadores do Bayern de Munique conseguiram diante do Shakthar Donetsk. A última vez, em qualquer competição, que a equipa alemã tivera a mira tão torta fora em outubro de 2002.
5
As eliminatórias na Liga dos Campeões nas quais José Mourinho começou por empatar, com golos, fora de casa, e acabou por se qualificar para a fase seguinte.
4 horas e 59 minutos
O tempo que Cristiano Ronaldo passou sem marcar um golo. O português não usava os pés, as pernas, a cabeça ou qualquer outra parte do corpo para colocar a bola numa baliza desde 18 de janeiro.
10
O recorde de vitórias consecutivas que o Real Madrid conseguiu alcançar graças ao 2-0 com que bateu o Schalke 04, na Alemanha.
12
Cristiano Ronaldo chegou à dúzia de jogos seguidos a marcar fora de casa, na Champions. Nunca alguém tinha sequer chegado perto de atingir esta marca. O português marcou o primeiro frente ao Schalke 04 e, depois, deu o passe para o golo de Marcelo — foi a terceira vez esta época em que o português marcou e assistiu num encontro da competição.
28
As vitórias em partidas da fase a eliminar da Liga dos Campeões que Cristiano Ronaldo já venceu. Ultrapassou assim a marca que pertencia a dois guarda-redes: o holandês Edwin Van der Sar e o espanhol Victor Valdés.
33
O número de jogos consecutivos que o Paris Saint-Germain leva nas competições europeias sem perder em casa. É a maior série vigente: já lá vão oito anos.
68
As partidas realizadas pelo Bayern de Munique nas fases a eliminar da Liga dos Campeões desde 1992, ano em que a competição adotou o atual formato. Assim igualou o Real Madrid como o clube com maior número de jogos.
100
Os encontros que Xabi Alonso já soma na Liga dos Campeões. Para o comemorar, acabou por ser expulso frente ao Shakthar Donetsk — a primeira vez que tal aconteceu a um jogador que cumpria o centésimo jogo na competição.
2003
Ano desde o qual o Bayern de Munique não empatava um jogo fora de casa, sem golos, numa eliminatória da Champions.