A Câmara Municipal de Lisboa agendou para esta quarta-feira a discussão de um projeto de ampliação e de alterações ao palácio onde, durante décadas, esteve instalada a Hemeroteca Municipal de Lisboa. A proposta deverá ser retirada da ordem de trabalhos, mas merece desde já a oposição do Fórum Cidadania Lx, que alega que os trabalhos para a instalação de uma biblioteca jesuíta naquele espaço vão ser prejudiciais ao património nele existente.

Situado na Rua de São Pedro de Alcântara, perto do Chiado, o palácio dos Condes de Tomar albergou a Hemeroteca durante 40 anos e, agora, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, atual proprietária do edifício, quer ali colocar a redação da revista jesuíta Brotéria, bem como da respetiva biblioteca. Para tal, o projeto entregue à câmara prevê a “demolição de interiores com vista à sua adequação a arquivo”.

É isto que preocupa o Fórum Cidadania Lx, que fez chegar ao presidente Fernando Medina e ao vereador Manuel Salgado – subscritor da proposta – uma carta onde afirma que o projeto é “altamente lesivo para o edifício”, nomeadamente no que diz respeito à ala que faz esquina com a Rua do Grémio Lusitano. Se a escadaria, os estuques e as claraboias da parte principal do palácio deverão ser preservadas, já a antiga cozinha, a sala de fumo e a escada que liga essas divisões estão na calha para a demolição.

Segundo a ficha técnica do palácio, a que o Observador teve acesso, as “paredes [da sala de fumo] apresentam um raro revestimento em couro lavrado e policromo, representando elementos heráldicos da família dos proprietários e animais fantásticos”, um dos motivos que leva o Fórum a pedir que a Santa Casa reformule o projeto de forma a preservar estes elementos.

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“Cremos que é possível manter a vontade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de fazer nascer a Biblioteca Brotéria neste palácio sem que isso signifique a demolição do que foi relatado”, escrevem os representantes daquele movimento cívico.

O projeto mereceu um parecer desfavorável da Estrutura Consultiva Residente do Plano Diretor Municipal (PDM) de Lisboa. Numa informação técnica dos serviços da câmara também eram desaconselhadas as demolições. Já a Direção-Geral de Património Cultural deu o seu aval às obras, desde que as demolições sejam acompanhadas por um arqueólogo e haja um plano de salvaguarda patrimonial.

Falando ao Observador, o vereador comunista Carlos Moura queixou-se de ter recebido a proposta só na segunda-feira, pelo que, diz, não teve tempo para a estudar, o que o deverá levar a pedir que a mesma não seja discutida na reunião de quarta. Já António Prôa, vereador do PSD, admite que, “em princípio”, votará favoravelmente, caso haja mesmo discussão do projeto. Para a reunião de quarta-feira está agendada a discussão de 73 propostas.