Cem minutos. Este foi o tempo em que Jess Evans e Mike Houlston, da cidade de Cardiff no Reino Unido, passaram ao lado do seu filho Teddy antes do falecimento da criança por anencefalia, uma má formação do cérebro que ocorre durante a formação embrionária. A história destes pais, comum a cada um entre 700 recém-nascidos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, podia ter um final triste, se não fosse pela sua decisão: doaram os rins de Teddy a um paciente adulto com insuficiência renal, tornando-o o bebé o mais jovem doador de órgãos de sempre do Reino Unido.
A história foi contada com pormenores esta quinta-feira pelo jornal The Guardian, após um ano da operação. Em janeiro deste ano, na altura do transplante, o Observador noticiou como o caso havia chamado a atenção do Reino Unido e ganha as páginas da revista científica Archives of Diseases in Childhood.
Em entrevista ao jornal inglês, Houlston explica a motivação da família. “Apesar de não ter estado muito tempo connosco, e que o tenhamos trazido para o mundo sabendo que não tinha esperança de vida, temos muito orgulho do seu heroísmo. Esperamos que a vida de Teddy inspire outros pais que se encontrem na posição de perder uma criança. (…). Ele viveu e morreu como um herói”, afirma.
No vídeo abaixo recuperado pelo The Guardian, Evans e Houlston contam como foram os primeiros momentos de vida de Teddy:
Angharad Griffith, a enfermeira que levou Teddy para a sala de cirurgia de transplante depois de este morrer, disse que o procedimento pode ser repetido em outros casos, apesar de o ceticismo das equipas médicas. “Sei que Jess e Mike acreditam firmemente que isso [a doação de órgãos de recém-nascidos] é algo que gostariam que outras famílias tivessem a oportunidade de fazer caso estejam na mesma posição. (…) Eles só acreditam que as famílias devem ter a escolha e deve ser algo considerado em circunstâncias semelhantes”, afirma à BBC Radio citada pelo The Guardian.
De acordo com Paul Murphy, médico do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, é raro que recém-nascidos sejam considerados para doação pelos próprios pais. Murphy confessa à publicação que desencorajou os pais de Teddy a fazerem a doação devido ao pouco tempo de vida do bebé, mas teve de encontrar uma maneira após a insistência da família. “Mike e Jess estavam determinados que deveria acontecer e, devido aos seus esforços, encontramos uma maneira”, explica. “Toda doação é inspiradora. É um ato altruísta de heroísmo. Mas a história de Teddy é excecional”, conclui.
Evans e Houlston tiveram filhos gémeos, mas apenas a Teddy foi dignosticado anencefalia. Durante o parto, o casal avisou aos médicos que gostava de passar alguns minutos com o filho, “mesmo que fosse por 10 minutos ou uma hora” e que isto os ajudou a tomar a decisão de doar os órgãos de Teddy. “Ajudou-nos saber que ele ajudou outra pessoa e também os médicos a perceberem que a doação por pequenos bebés é possível e é algo que pessoas como nós querem que aconteça”, assegura Houlston.