Tanto o líder do PSD como o do CDS viram com alegria os resultados eleitorais no Reino Unido. Encontram razões para festejar e encarar com mais otimismo as eleições legislativas em Portugal. Mas os motivos para sorrir serão os mesmos? Já no PS, com a derrota do Partido Trabalhista, justifica o resultado com o facto de Cameron não seguir a “doutrina da austeridade”.

Pedro Passos Coelho destacou “a política de recuperação económica que envolveu também a tomada de medidas bastante difíceis e que não eram nada populares” de Cameron, congratulando-se pelo facto de, apesar dos cortes, os ingleses terem querido reforçado o apoio ao atual Governo em vez de mudar de partido. Ora, este é um dos principais argumentos do PSD para apelar ao voto nas legislativas de outubro.

Na mesma linha, o líder do CDS, Paulo Portas, por seu lado, sublinhou que a maioria absoluta de David Cameron revela que “os britânicos não quiseram voltar ao despesismo socialista”.

“O resultado dos conservadores, apesar das sondagens sombrias, foi bastante impressivo e revela o melhor do espírito inglês. Na verdade, o eleitorado reconheceu que David Cameron teve de tomar medidas difíceis para pôr as finanças em ordem e trouxe o Reino Unido a um crescimento económico assente na iniciativa privada e na moderação fiscal”, refere Paulo Portas numa mensagem enviada esta manhã ao primeiro-ministro conservador britânico.

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Cameron passou de um Governo de coligação com os liberais para um Governo de maioria absoluta, tendo o partido de Nick Clegg perdido 49 lugares. Ora, isto não impressiona os centristas que em Portugal desempenham um papel semelhante, o de segundo partido de coligação.

Por um lado, os dirigentes do CDS salientam que o partido irmão no Reino Unido são os conservadores de Cameron e não os liberais de Nick Clegg. “Em termos homólogos, nós ganhamos”, afirmou ao Observador fonte do CDS salientando que na maior parte dos países europeus é difícil a um partido sozinho ser eleito com maioria absoluta.

Já do Largo do Rato a leitura é diferente. Se PSD e CDS se colam aos conservadores, António Costa descola-os. Para o líder socialista, David Cameron ganhou as eleições, mas não foi por seguir a “doutrina da austeridade” que foi seguida na Zona Euro. “Em primeiro lugar quero felicitar naturalmente o primeiro-ministro inglês pelo resultado eleitoral que obteve mas se se comparar bem aquilo que tem sido a política económica seguida em Inglaterra com aquilo que tem sido a política económica seguida na Zona Euro percebe-se porque é que a Inglaterra e os Estados Unidos têm tido uns resultados e a Europa, seguindo a doutrina da austeridade, tem tido outros resultados bastante diversos”, disse. O partido-irmão do PS, os Trabalhistas, tiveram uma derrota estrondosa o que desgostou Costa: “Gostaria de outro resultado do Partido Trabalhista”, admitiu.

Dispensar o partido mais pequeno

Para os centristas, as sondagens no Reino Unido não conseguiram antecipar os resultados efetivos devido ao voto oculto – pessoas que até apoiam o Governo em funções mas que, nas sondagens, não o assumem por considerarem ser politicamente incorreto dizerem que estão do lado de quem faz cortes orçamentais impopulares.

O que os resultados no Reino Unido revelam é um feito raro: um partido que governa coligado e na reeleição aumenta de tal forma a votação que pode dispensar o partido mais pequeno. Mas sobre isto os democratas-cristãos pouco falam. Na verdade, PSD e CDS já assinaram o acordo de coligação com vista às próximas legislativas e, por isso, o risco de o partido mais pequeno ser dizimado eleitoralmente é menor.

Esta sexta-feira de manhã, nos corredores do Parlamento, o resultado das eleições no Reino Unido dominava as conversas. “Viram o que aconteceu aos liberais? É o que aconteceria ao CDS se fosse concorrer sozinho”, comentava um deputado do PSD.

Entre os sociais-democratas, ironiza-se que afinal a coligação com o CDS, assinada no dia 25 de abril, até nem seria necessária e sublinha-se que o cenário equacionado por Passos de o PSD conseguir ter maioria absoluta sozinho “não era afinal destituído”.