Mesmo no começo de “Mundo Jurássico”, de Colin Trevorrow, quarto filme da série iniciada em 1993 por Steven Spielberg com “Parque Jurássico”, Claire, a personagem interpretada por Bryce Dallas Howard, gestora de operações do parque de dinossauros que dá nome ao filme, a funcionar em pleno e situado na nossa conhecida Ilha Nublar, diz a um trio de visitantes que “as pessoas já se habituaram aos dinossauros” e que é preciso dar-lhes “algo de novo”. Quer dizer, um dinossauro nunca visto, sem antepassados na história da espécie, fabricado em laboratório pelos peritos em genética do parque. Um novo monstro feito dos genes não só de várias outras criaturas pré-históricas, como também de animais do nosso tempo, “maior, mais assustador, mais ‘cool’”. Ao definir esta novo dinossauro híbrido, adequadamente baptizado Indominus Rex, o filme está também, pela boca de Claire, a definir-se ao espectador e a dizer que pretende superar os três anteriores.

“Trailer” de “Mundo Jurássico” 

Em “Parque Jurássico”, Steven Spielberg apresentou-nos aos dinossauros digitais mais espectacular e plausivelmente realistas que o cinema até então tinha conseguido criar. Isto foi há 23 anos. Entretanto, os monstros digitais sucederam-se, sofisticaram-se, diversificaram-se e banalizaram-se (já houve inclusivamente não um mas dois novos Godzilas), e hoje bocejamos quando estamos a fazer “zapping” e nos detemos num qualquer documentário televisivo sobre dinossauros, recriados digitalmente. Estamos “blasés” de criaturas da era Jurássica. Por isso, “Mundo Jurássico” tinha que ir mais longe do que os filmes anteriores, tinha que ter uma capacidade de surpreender e espantar à altura do filme fundador da série, e ter como vedeta um monstro único: um dino-Frankenstein.

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https://youtu.be/Z2MnRnJ-SFw

Nos bastidores da rodagem 

Só que estamos no “habitat” das superproduções de Verão, onde surpresas a mais não são bem-vindas e há que respeitar as convenções familiares, reconhecíveis, reconfortantes. Por isso, “Mundo Jurássico” resume-se praticamente a um monstro novinho em folha vestido com roupa narrativa velha.

O Indominus Rex é maior, mais assustador e também muito mais inteligente que os outros dinossauros. Ilude os humanos, evade-se e espalha o caos e a morte na ilha, e depois de trincar animais e pessoas sortidas, ameaça devorar os dois jovens (e adequadamente desobedientes) sobrinhos de Claire. Esta, num abrir e fechar de olhos, passa de gestora chata para super-mulher, e juntamente com o intrépido Owen Grady (Chris Pratt, com um estilo agradavelmente reminiscente do de Indiana Jones), que domestica Velociraptors como se fossem cães ou cavalos, corre a salvá-los, enquanto tentam destruir o monstro.

Entretanto, o filme condena os cientistas que, mais uma vez, “desafiaram a natureza” e zupa nos militares, que sonham em usar os Velociraptors treinados por Grady como armas de guerra contra os fundamentalistas islâmicos: “Ah, se tivéssemos tido disto em Tora-Bora…”, diz a certa altura o vilão securitário interpretado por Vincent D’Onofrio.

Entrevista com Steven Spielberg e Colin Trevorrow 

Escrito, entre outros, por Rick Jaffa e Amanda Silver (“Planeta dos Macacos: A Origem”), “Mundo Jurássico” é realizado por Colin Trevorrow com um consistente sentido de ameaça e pulso firme para a acção. Aliás – e felizmente – Trevorrow abdica da montagem incomodamente frenética e vertiginosa na moda, contemplando um estilo visual dinâmico mas fluido. Não me admirava nada que além das suas funções de produtor executivo, Steven Spielberg tenha supervisionado muito de perto a rodagem. “Mundo Jurássico” sabe muito mais a continuação do primeiro filme do que a quarto título da série.

Entrevista com Chris Pratt 

Entrevista com Bryce Dallas Howard  

O final, com a evacuação dos peritos em genética, que levam com eles os “activos” de laboratório, parece confirmar que a intenção dos seus autores é que “Mundo Jurássico” inaugure uma nova trilogia. Para já, e apesar de toda a prosápia do Indominus Rex, o nosso velho amigo T-Rex continua a mostrar que quem manda ali é ele, com uma ajudinha dos amigos de dentuças afiadas.