Já passou pela experiência de explodir com alguém perto da hora de almoço sem justificação aparente? Se sim, saiba que é vítima de um fenómeno chamado hangry — a junção da palavra hunger (fome) com angry (chateado) –, que ocorre em algumas pessoas quando estão com fome.

Algumas, leu bem. Porque nem todos sofrem da mesma forma. E porquê? Segundo a CNN, a resposta está nos processos que acontecem no seu organismo quando sente fome.

SOS: falta de glicose no sangue

Quando come, os carboidratos, as proteínas e os lípidos presentes nos alimentos são transformados em açúcares simples, como a glicose ou os aminoácidos. Estes nutrientes percorrem a sua corrente sanguínea e são distribuídos pelos órgãos e tecidos, dando-lhe energia. O que acontece é que passadas algumas horas desde a última refeição, a quantidade destes nutrientes na corrente sanguínea diminui. E se os níveis de glicose no sangue caírem muito, o cérebro vai interpretar essa queda como uma situação de ameaça à vida, uma vez que é extremamente dependente da glicose para fazer o seu trabalho. Essa dependência manifesta-se através de dificuldades de concentração que o levam a cometer erros que de outra forma não cometeria e podem tornar a fala confusa e arrastada.

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Além destes sintomas, poderá sentir-se incapaz de se comportar normalmente em situações sociais. Pode conseguir controlar-se à frente do seu chefe, mas as pessoas que lhe são mais próximas não vão escapar à ira.

Resposta do corpo à falta de glicose

Outra das razões que leva ao mau humor são os mecanismos adotados pelo corpo para responder à falta de glicose. Quando os níveis baixam, o cérebro envia instruções a vários órgãos para sintetizarem e libertarem hormonas que aumentem esses níveis.

A regulação da glicose é feita através das hormonas de crescimento na hipófise, do glucagon no pâncreas e da adrenalina e do cortisol produzidos nas glândulas supra-renais. Estas duas últimas são as chamadas hormonas de stress, que alteram o comportamento do corpo para aguentar, atacar ou fugir de situações stressantes.

Uma questão de genes

Outro fator que contribui para que irritação e fome andem de mãos dadas é o facto de ambas serem controladas pelos mesmos genes. O neuropiptídeo Y é uma das substâncias que fazem a comunicação entre os neurónios e pode ser considerado o principal estimulante da fome, atuando em vários recetores do cérebro, como o Y1.

Além de controlarem a fome, o neuropiptídeo Y e o recetor Y1 também regulam a irritação e a depressão. Daí que pessoas com níveis muito altos de neuropiptídeo Y no líquido cefalorraquidiano tenham mais impulsos agressivos.

Resumindo e concluindo, a junção da fome e do mau temperamento não é mais do que um instinto de sobrevivência que tem ajudado humanos e animais ao longo dos anos. Se sempre que tivessem fome as pessoas ficassem quietas e deixassem todos comerem antes de si, a nossa espécie poderia já estar extinta.

O melhor a fazer nestes casos é comer qualquer coisa antes de explodir, de preferência algo rico em nutrientes e que disfarce a sua fome durante mais tempo. E para evitar desentendimentos desnecessários, adie as situações difíceis ou as reuniões para depois do almoço.