222 votos a favor, 64 contra e 11 abstenções. São este os números que resumem a discussão e a votação do terceiro plano de resgate à economia grega — um total de 85 mil milhões de euros. A noite foi longa — o parlamento começou a debater o memorando por volta das 01h00 (23h00 em Lisboa) e só fechou o dia às 10h00 (08h00 em Lisboa).
“Não me arrependo das minhas decisões. Este memorando não é nenhum triunfo, mas é a melhor escolha que podemos fazer numa altura de aperto financeiro”, disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, no parlamento grego, num discurso que terminou por volta das 09h00 (07h00 de Lisboa). Ao longo da sua intervenção, Tsipras quis deixar claro que “não havia alternativas” ao terceiro resgate grego e que a única escolha possível seria entre “um memorando com o euro ou um memorando com o drachma”.
Pressionado a falar de um eventual cenário de eleições antecipadas pela bancada parlamentar do partido de centro-direita Nova Democracia (ND), Tsipras não deixou essa possibilidade de fora, mas referiu que falar desse assunto neste momento “não ajuda”. Por sua vez, o líder da bancada da ND, que é o maior partido da oposição, referiu que umas “eleições antecipadas resultariam num desastre económico para o país”.
Logo após a votação, a ERT, o canal de televisão pública grega, avançou que Tsipras deverá promover uma moção de confiança ao seu governo na quinta-feira da próxima semana, dia 20 de agosto. Para já, não é certo que o executivo grego sobreviva a esta votação — para tal, terá de conseguir 151 votos em 300. A fazer fé nos números de hoje, onde apenas 118 dos deputados da coligação no poder votaram a favor do resgate, o governo de Tsipras terá dificuldades em passar este teste.
Ainda assim, não é líquido que os partidos da oposição votem contra no caso de uma moção de confiança ao governo — nem que, por outro lado, levem para a frente uma moção de censura a fim de provocar novas eleições. Isto porque, mais do que a qualquer outra força política, as sondagens são favoráveis ao Syriza. As estudos de opinião mais recentes (meados de julho) apontam que, no caso de eleições antecipadas, o Syriza de Alexis Tsipras teria um resultado superior a 40% — acima dos 36,3% obtidos no sufrágio de janeiro deste ano e suficientes para obter uma maioria parlamentar sem a necessidade de fazer uma coligação. Ao mesmo tempo, a Nova Democracia, que em janeiro teve 27,8%, teria agora entre 22% e 23% dos votos.
Havendo novas eleições, estas podem ser uma oportunidade para o Syriza elaborar novas listas, evitando a inclusão de nomes da Plataforma de Esquerda, a fação mais radical dentro do partido e de onde surge a maior parte dos deputados que têm feito oposição interna ao executivo de Tsipras.
Divisões no Syriza
Entre os deputados do Syriza, 32 votaram contra, 11 abstiveram-se e um esteve ausente. Embora esta dissidência não tenha uma interferência direta no resultado final da votação — o número de deputados que votaram favoravelmente é quase quatro vezes mais alto do que os que votaram contra –, torna-se cada vez mais evidente que há uma divisão interna no partido de Alexis Tsipras que pode ser irreversível.
#Greece: Which #Syriza MPs voted No or abstained: spreadsheet showing last three votes. http://t.co/yBtnCByJZw #Vouli pic.twitter.com/hTWoMk6u5l
— Damian Mac Con Uladh (@damomac) August 14, 2015
Entre os deputados que votaram contra a proposta que Tsipras quer ver aprovada está o ex-ministro das Finanças Yannis Varoufakis. No final da intervenção do primeiro-ministro, Varoufakis declarou que não ia conseguir votar a favor da proposta para um terceiro resgate grego e, de modo a não pôr em risco a maioria parlamentar deste governo, sugeriu ao primeiro-ministro que pedisse a sua demissão enquanto deputado.
Após a votação, a presidente do Parlamento, Zoe Konstandopulu (Syriza), ainda chegou a colocar várias questões em plenário que terão incidido sobre detalhes técnicos do memorando. Houve quem aventasse a hipótese de Konstandopulu estar a fazer filibusting — que consiste num deputado discursar durante o tempo necessário sobre uma determinada lei ou medida, com o intuito de torná-la impraticável com a passagem das horas. Neste caso, teria de fazê-lo pelo menos até às 14h00 de Lisboa, hora a que o Eurogrupo se reúne. Tal não se concretizou — afinal, o parlamento acabou por fechar a sessão às 11h00 de Atenas (09h00 de Lisboa).
Eurogrupo reúne em Bruxelas, Alemanha “tem questões”
A votação, que começou esta madrugada com grande atraso devido a questões sobre o processo parlamentar, é um requisito que as instituições fixaram como prelúdio da decisão do Eurogrupo.
Em causa está a aprovação de um acordo sobre o plano de ajuda de 85 mil milhões de euros, o terceiro desde 2010, em troca de medidas de poupança drásticas.
Os ministros das Finanças da zona euro vão estar reunidos na sexta-feira a partir das 15h00 em Bruxelas para discutir o novo plano de resgate grego. A Alemanha já disse “ter questões”.