Como um bombom que esconde por fora o recheio que leva por dentro, a fachada do Palacete da Real Companhia do Cacau diz muito pouco do que se pode encontrar no seu interior. Instalado no centro histórico de Montemor-o-Novo, o novo turismo de habitação tanto inclui salões que são uma espécie de mini-Versailles no Alentejo, datados do século XIX, como quartos modernos construídos em antigos celeiros, com vista para o castelo. A comparação com um bombom não é inocente: esses quartos estão todos pintados de castanho, como se a porta desse acesso ao interior de um praliné, e num antigo picadeiro vai começar a funcionar, a partir de outubro, uma fábrica de chocolate.

Moisés Gama e Sandra Rodrigues de Gouveia são os Willy Wonka desta história. Em 2010, decidiram comprar o imponente palacete do Largo Alexandre Herculano, no concelho alentejano. O objetivo inicial era ter uma segunda habitação a uma hora de Lisboa, mas por entre todas as obras de renovação de que o espaço precisava, viram antes a ideia de um segundo negócio. Desde 29 de julho são eles que recebem os hóspedes nos salões com mobílias antigas, na adega onde se manteve a enorme lareira do antigo fumeiro, na piscina de 15 metros rodeada de figueiras ou nos quartos onde as janelas novas e o ar condicionado convivem com as velhas portas de madeira maciça ou uma manjedoura que faz as vezes de móvel de apoio.

Real Companhia do Cacau 1

Os quartos pintados com as cores do chocolate e as banheiras XXL.

“Aqui nunca se deitou nada fora”, diz Sandra, confessa adepta de peças com história. “Também nunca foi nosso objetivo fazer simplesmente mais um turismo de habitação igual aos outros”, completa Moisés. “Sempre gostámos da ideia de produção, de fazer alguma coisa e de forma auto-suficiente.” E aí entrou o chocolate, paixão confessa do casal, numa história que vai até ao outro lado do mundo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Numa viagem à Nova Zelândia, andávamos à procura de vinhas e acabámos por descobrir uma fábrica de chocolate de 200 metros quadrados”, conta Moisés. “Fiquei surpreendido como é que uma coisa tão pequenina conseguia fazer chocolates tão bons e exportar para todo o mundo.” Para o fazer também no Alentejo, o casal lançou-se num périplo pela Europa e visitou fábricas em Amesterdão, Copenhaga, Milão. Marcas como Valrhona, Imperial ou Claudio Corallo tornaram-se conversa de jantar, e por estes dias os hóspedes que reservam quarto no palacete já podem visitar a fábrica onde, a partir do próximo mês, vão nascer os chocolates Real Companhia do Cacau — em barra e em bombons com recheio.

“A ideia é termos os chocolates presentes de outras formas também, seja nos quartos, em workshops para os hóspedes ou provas”, diz Moisés. Na sala de massagens, decorada por Nini Andrade Silva, há ainda a possibilidade de fazer um envolvimento em chocolate, pelo que aconselhamos uma sessão de banho turco — montado nas antigas boxes dos cavalos, como toda a área de fitness — para abrir os poros.

E se gosta mesmo de chocolate, não deixe de provar a mousse feita pela dona a partir de uma receita de família e que tanto é servida à beira da piscina como no salão de paredes e tetos trabalhados onde se servem os pequenos-almoços e os jantares (por marcação). Um dos hóspedes que rapou a tigela até propôs um nome à altura: creme real de chocolate à antiga.

Nome: Palacete da Real Companhia do Cacau
Morada: Lg. Alexandre Herculano, 1, Montemor-o Novo
Reservas: 961 797 829; info@palace.com.pt
Preços: Quartos de 159€ a 289€ com pequeno-almoço