“A Modista”

Quando Kate Winslet faz um mau filme, podemos estar certos que é mesmo um mau filme! Após “Nos Jardins do Rei” e “Um Segredo do Passado”, agora é “A Modista”, ambientado no interior da Austrália nos anos 50. Winslet é Tilly, uma modista que regressa à terra natal anos depois de ter sido acusada de assassínio e partido para a cidade em desgraça. E Tilly regressa para fazer vestidos e ensinar os conterrâneos a vestirem-se bem, mas também para se vingar. Realizado por Jocelyn Moorhouse, “A Modista” é uma bizarra mixorofada de registos, estilos e tons. O filme quer ser várias coisas ao mesmo tempo, entre cartoon com actores de carne e osso, comédia negra, sátira de costumes e, no final, tragédia, falhando sempre, como alguém que está a experimentar atabalhoadamente roupa de números que não lhe servem. Judy Davis, Hugo Weaving e Liam Hemsworth também fazem parte da pangaiada.

“A Dupla Vida de Véronique”

Esta semana marca também a reposição, em cópia digital restaurada, de “A Dupla Vida de Véronique” (1991), do polaco Kzrysztof Kieslowski (a sua trilogia “Azul”/”Branco”/”Vermelho” acompanha-o no regresso aos cinemas portugueses). Irène Jacob interpreta duas raparigas chamadas Verónica, uma francesa e uma polaca, ambas da mesma idade, ambas cantoras, que nunca se viram mais gordas mas partilham uma série de características, incluindo um problema cardíaco que acaba por matar a Verónica polaca, e mudar por completo a vida da francesa. Pegando no tema dos “duplos”, já explorado várias vezes pelo cinema em termos policiais ou de terror, Kieslowski rodou um filme poeticamente enigmático, suavemente fantástico, elipticamente intrigante, e de uma admirável elegância formal, onde Jacob parece mesmo desdobrar-se em duas para personificar as protagonistas homónimas. (E não esquecer a banda sonora de Zbigniew Preisner).

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https://youtu.be/QmnNrgSuQfE

“Que Horas Ela Volta?”

É o filme brasileiro de que se fala. Premiado nos festivais de Berlim e Sundance, sucesso de público e de crítica no Brasil, e também nos EUA e nos países europeus onde se tem estreado, “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, foi escolhido para representar o seu país na pré-nomeação ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Regina Casé é a criada de uma abastada família de São Paulo cuja filha chega do interior para fazer o exame de admissão à faculdade, e espalha o mal-estar e a discórdia por não ser subserviente e “conhecer o seu lugar” como a mãe, instalando-se assim na luxuosa casa a cacofónica versão brasileira da luta de classes.  “Que Horas Ela Volta?” foi escolhido como a estreia da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.