Num escrutínio previsível e definido como um plebiscito ao Partido Progressista da Sérvia (SNS, conservador) do primeiro-ministro Aleksandar Vucic, 6,8 milhões de eleitores sérvios são convocados às urnas também para eleger os seus representantes das províncias e municípios.
A UE tem mantido uma atitude discreta, optando por ignorar as acusações de autoritarismo dirigidas por setores oposicionistas ao homem forte do país, que lidera um governo de coligação onde se destaca o Partido Socialista da Sérvia (SPS) do chefe da diplomacia, Ivica Dacic.
Nestas segundas legislativas antecipadas a meio de um mandato desde 2012, todas as sondagens são unânimes em fornecer de novo a vitória ao SNS, que domina o cenário político sérvio e poderá repetir a maioria absoluta registada em março de 2014, quando elegeu 158 dos 250 deputados.
Os restantes partidos com possibilidades de ultrapassar a barreira obrigatória dos 5% para obter representação parlamentar situam-se muito atrás. No campo “pró-europeu”, o SPS (centro-esquerda) surge com 11,5%, à frente dos Democratas (DS, centro-esquerda) e de uma coligação centrista-liberal em torno do ex-presidente Boris Tadic.
As eleições de domingo devem ainda confirmar o regresso ao parlamento do Partido Radical de Vojislav Seselj, (SRS, ultranacionalista, ausente em 2012 e 2014) e a estreia no hemiciclo da direita soberanista do DSS-Dveri, liderada por Bosko Obradovic, em conjunto creditados de 10% a 15%.
Uma assinalável viragem à direita num país confrontado com um desemprego perto dos 20%, cortes nas reformas e pensões, cortes na saúde e educação, aumento dos impostos, privatizações em série, e com o campo radical “anti-europeu” a ganhar pontos.
Recentemente absolvido pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ), Vojislav Seselj, 61 anos, arauto da “Grande Sérvia” no decurso das guerras jugoslavas da década de 1990 e que implicaram um prolongado isolamento internacional do país balcânico, empenhou-se durante a campanha a comparar o escrutínio a um referendo entre a UE… e a Rússia.
“Não queremos entrar na União Europeia! Estão lá todos os inimigos da Sérvia!”, afirmou durante esta semana em Belgrado.
Vucic, antigo “delfim” de Seselj com quem rompeu em 2008 para formar o SNS, respondeu ao sublinhar que “em qualquer momento farei o mínimo compromisso com quem pretende fazer regressar a Sérvia ao passado”.
Na sequência da sua conversão ao pragmatismo e ao liberalismo, o primeiro-ministro insurgiu-se durante a campanha contra “os que pretendem fazer da Sérvia o leproso da Europa, um Estado pária na região e no mundo, fazendo-a deixar o caminho da Europa”.
Após o início das conversações oficiais com Bruxelas em dezembro, na sequência e um acordo de “normalização de relações” com o Kosovo que permitiu oficializar a candidatura à UE, Vucic pretende com estas eleições garantir legitimidade reforçada para prosseguir as discussões de adesão.
Desde dezembro foram abertos dois capítulos, relacionados com o controlo das finanças públicas e as relações com o Kosovo, a antiga província sérvia de declarou a independência unilateral em 2008. O novo governo deverá iniciar dois novos ‘dossiers’, sobre direitos fundamentais, justiça, liberdade e segurança.
No entanto, um estudo recente do semanário independente Vreme indicou que 62,7% da população da Sérvia, país com maioria de população eslava e religião ortodoxa, deseja uma aliança com a Rússia (67,2%), enquanto metade (50,9%) é favorável a uma adesão ao bloco comunitário.
A Rússia de Vladimir Putin, muito presente em importantes setores da economia sérvia, também tem recolhido benefícios pelas suas posições: oposição à admissão à Unesco do Kosovo, cuja independência Belgrado continua a rejeitar, ou veto à resolução da ONU que qualificava de genocídio o massacre de Srebrenica.
Neste contexto, Vucic protagoniza um “jogo de equilíbrio”, mas parece manter o controlo do calendário político. Em 2017 vão decorrer eleições presidenciais. Decerto o momento ideal para alterar a Constituição que, no seu preâmbulo, define o Kosovo como “parte integrante” da Sérvia, e provavelmente para reforçar os poderes do novo presidente.