Os contornos do crime que vitimou Fernando Silva e Elvira Mil-Homens – mais conhecida por Virinha -, um casal de empresários luso-angolano residente em Luanda, ainda são turvos.

O que sabemos oficialmente até agora é que os dois portugueses, de 61 e 56 anos respetivamente, seguiam na via Expresso – uma estrada que liga várias regiões na periferia da capital angolana – com o filho Bruno, de 33 anos, na parte de trás do carro. A certa altura, uma outra viatura aproximou-se do carro da família e obrigou-o a travar. A família julgava que se tratava de um assalto: Bruno terá dito aos atacantes para levarem o que quisessem. Mas eles não levaram nada: mataram Fernando Silva primeiro, depois balearam também Elvira Mil-Homens, que veio a morrer já no hospital. Bruno Silva, o filho, escapou ileso e nem sequer foi abordado pelos criminosos.

Fonte próxima à família contou ao Observador que as teorias que justificam a morte do casal são muitas. Uma delas é a hipótese de vingança. Há dezasseis anos que os dois geriam uma loja de artigos de decoração, iluminação e material elétrico em Viana, uma cidade a 18 quilómetros de Luanda onde moravam na “Vereda das Flores” (que, ao contrário do que se tem escrito, não é condomínio de luxo). Nos últimos tempos, o casal foi obrigado a despedir vários funcionários, portanto a possibilidade de se tratar de um “acerto de contas”, como as autoridades já tinham avançado, está em cima da mesa. E isso justificaria o facto de o filho mais velho do casal – a mais nova vive em Portugal e está grávida – ter escapado aos atacantes.

A verdade é que os crimes na via Expresso não são uma novidade. Um cidadão francês foi recentemente raptado após ter sido abordado nessa estrada, mas foi libertado quatro dias depois. Na sequência desse acontecimento, as autoridades francesas aconselharam os estrangeiros a não viajarem naquela via ou a serem sempre escoltados por seguranças. Até à última quarta-feira, a embaixada portuguesa não estava a ponderar lançar os mesmos alertas para os portugueses residentes em Luanda.

Até esta manhã, as autoridades angolanas ainda não tinham novos dados sobre o sucedido. Os autores do crime ainda não foram identificados. De acordo com as declarações de um elemento da polícia não identificado à agência Lusa, “não há ninguém que apareça e diga que viu alguma coisa”. O filho já foi ouvido, mas não conseguiu fornecer muitas informações sobre o ataque: “Dada a situação, era difícil fixar alguma coisa para se ter, pelo menos, um retrato falado”. Ainda assim, a polícia diz acreditar que este ataque é uma consequência da onda de crimes que varre o país.

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