Numa entrevista à SIC e ao Expresso, Durão Barroso faz o balanço de 30 anos de vida política ativa que agora quer enterrar. Depois de dez anos à frente da Comissão Europeia, o ex-primeiro-ministro português garante que vai voltar aos EUA, onde dá aulas, que vai continuar a dar aulas na Católica, em Lisboa, e também em Genebra, na Suíça. De resto, admite aceitar “algum cargo não executivo” no setor privado, fora de Portugal. Política é que nunca mais. Sobre as decisões que tomou no passado, nomeadamente a de ter trocado Lisboa por Bruxelas, diz que ainda ouve críticas mas que não pode ser responsabilizado por “aquilo que os outros fizeram a seguir”. “Isso já me parece demais.”
É, no entanto, sobre uma das decisões mais polémicas que tomou enquanto primeiro-ministro — a da realização da Cimeira das Lajes, que depois deu origem à invasão do Iraque —, que Barroso mais reconhece as críticas. “Oiço as críticas, conheço as críticas.” Mas continua a afirmar que fez o que na altura achou que devia ser feito, “com a informação que tinha disponível”, e avança mesmo que a decisão foi concertada previamente com o Presidente da República, Jorge Sampaio.
“Na altura a decisão foi tomada com o apoio do Parlamento português, e com o apoio do Presidente da República Jorge Sampaio, que expressamente me disse que sim, que concordava, foi a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final, depois de a realização da cimeira me ter sido proposta pelos outros países [EUA, Reino Unido, Espanha]”, disse.
Na mesma entrevista, que será divulgada na íntegra este sábado, comenta ainda a decisão de ter deixado São Bento, em Lisboa, pela Comissão Europeia, em Bruxelas, dando o exemplo do seu colega no Conselho Europeu, o belga Herman van Rompuy, que também trocou o cargo de primeiro-ministro pelo de presidente do Conselho Europeu, mas a sua decisão, ao contrário da de Barroso, foi bem vista internamente.
“No caso belga todos compreenderam a saída de Herman van Rompuy e a decisão teve consequências graves, porque a Bélgica ficou mais de um ano sem governo, mas as pessoas compreenderam a decisão e não o culparam. No meu caso parece que sou responsável pelo que fiz, mas também pelo que outros fizeram a seguir, parece-me de mais. Uma pessoa assume a responsabilidade pelo que faz, mas não pode ser responsável por tudo o que se segue”, afirma.
Sobre a história recente de Portugal, nomeadamente o resgate e o programa de assistência da troika, Durão Barroso tece elogios a Passos Coelho, por quem ficou com “uma grande admiração” pelo “sentido de Estado, firmeza e responsabilidade” que demonstrou. Mas também tem uma palavra para António Costa, um “primeiro-ministro muito hábil politicamente, que tem usado bem todo o seu networking em Bruxelas” para ter “alguma folga” e “simpatia” da parte das instituições europeias.
Mas também faz críticas a ambos. A Passos por não ter sabido “explicar” bem os cortes que aplicou. “Não apresentou com empatia e compreensão as medidas que estava a levar a cabo, houve aí um problema, não só de comunicação, mas de relacionamento profundo com o país”, disse. E à natureza do governo de Costa, que tem “revertido as reformas mais ou menos ambiciosas que estavam em curso”.
Quanto ao futuro, Durão Barroso garante que à política não vai voltar. Vai manter-se entre os EUA, Lisboa e Genebra a dar aulas e a trabalhar no setor privado. “Tive propostas interessantes do setor económico empresarial, é possível que aceite alguma coisa do ponto de vista não executivo. A política para mim é passado”, disse.