Imagine um clube para fanáticos de superdesportivos, cujos membros são convidados a encontrarem-se em pistas de aviação desactivadas, ou locais similares, para aí puxar pelos seus carros ao máximo e ver quem é o mais veloz. Em síntese, assim é o Vmax200, clube britânico fundado em 2002 por Craig Williams, que trocou a actividade de corretor de petróleo na bolsa londrina, pela direcção de um clube em que quem não supere os 320 km/h – 200 milhas por hora – é frouxo.

De uma associação de loucos por carros, o Vmax200 tem vindo a evoluir para um grémio de desvairados por tudo o que ande e depressa. É o reino do tunning de luxo e está aberto a qualquer coisa que se desloque a velocidades bem acima da média, de superdesportivos a familiares com músculo, passando por SUV com adrenalina. Os interessados têm também de estar dispostos a pagar 795 libras (1.015€) por cada carro que queiram pôr à prova em pista. Sempre com a máxima segurança.

Com vários eventos por ano e muitas centenas de veículos em cada encontro, os associados são desafiados a tentar obter o tempo mais célere no arranque até 60 milhas (98,5 km/h) por hora – a coisa mais parecida com o nosso 0-100 km/h que os ingleses arranjaram – e continuar a acelerar até atingir a velocidade máxima, para o que necessitam da maior recta possível.

A diversidade é total. Nos veículos e nos condutores. Tanto surgem indivíduos equipados a rigor, com fatos de competição e capacete, para pilotar os seus Bugatti, Ferrari e Lamborghini, como há quem apareça para “esmifrar” o seu Bentley ou Rolls-Royce – é um clube britânico e a fleuma não perdoa – vestido como se fosse para uma soirée.

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Como os arranques forçam muito a mecânica e a velocidade máxima nem por isso, os participantes concentram-se mais em medir forças segundo este parâmetro, o que até faz sentido, ou não fosse este o clube Vmax – o V dificilmente significará aceleração.

Nesta guerra entre os modelos mais velozes, os superdesportivos das marcas mais conhecidas têm cada vez mais rivais, oriundos quer de preparadores especialistas em tunning – desconhecidos para muitos, mas verdadeiros génios da mecânica –, quer de fabricantes de carros de sonho, mas em pequenas quantidade e de forma quase artesanal. É o caso dos italianos da Pagani ou dos suecos da Koenigsegg, que basicamente produzem carros de competição com matrícula para poderem circular na via pública.

A competição tem vindo a incrementar a popularidade dos encontros Vmax200, especialmente porque os recordes não param de cair. No último evento em Bruntingthorpe, que decorreu no final de Maio, o Koenigsegg One:1 abriu o dia ao atingir 230 milhas por hora (366 km/h), batendo o anterior recorde por apenas uma milha por hora (1,6 km/h). O regresso da bomba sueca ao aeródromo privado inglês – onde já tinha colocado a fasquia nas 225 milhas por hora em meados de 2015 –, continuou em alta, com o One:1 a rodar a 235 milhas por hora (376 km/h) na segunda tentativa. E com um passageiro no lugar do pendura, que sempre são 80 kg a mais. O dia não terminou sem mais uma voltinha e um novo recorde, 240 milhas por hora (384 km/h), mesmo com a presença da chuva.

Conduzido pelo piloto profissional Oliver Webb, o Koenigsegg One:1 foi apresentado em finais de 2014 e considerado desde logo o primeiro megadesportivo. Integralmente construído em fibra de carbono, como se se tratasse de um carro de competição (como os que correm em provas como as 24 Horas de Le Mans), este supercarro é locomovido por um motor V8 com 5,0 litros de capacidade, soprado por dois turbocompressores. Debita 1360 cv, tantos quanto o seu peso em quilogramas. Daí a denominação (One:1, ou 1 kg:1 cv).

As únicas seis unidades produzidas foram rapidamente vendidas, apesar de a Koenigsegg pedir em troca 2,1 milhões de euros. Por cada uma delas e antes de impostos.