Uma sondagem divulgada este domingo mostrou que metade dos alemães preferem que a atual chanceler Angela Merkel não se apresente à reeleição nas eleições legislativas de 2017. É provável que Merkel, hoje com 62 anos, avance para mais quatro anos na liderança do governo, apesar das críticas internas à forma como vem gerindo a crise dos refugiados. Ainda assim, há pela primeira vez quem assuma sem timidez a candidatura à sucessão de Merkel — seja lá quando esta surgir. E o nome mais forte é o de Jens Spahn, um político talentoso e uma “contradição ambulante”, diz o Politico.
Jens Spahn, de 36 anos, é um conservador, membro do partido dos Cristãos Democratas (CDU) desde os 15 anos. É ministro-adjunto das Finanças e também já teve responsabilidades na área da Saúde. Quando se tornou deputado, com apenas 22 anos, disse numa entrevista que o seu plano era “escalar até ao topo de Berlim”.
Spahn é, também, homossexual assumido, muito ambicioso e nunca vira a cara a uma boa batalha. Tanto assim é que, segundo o Politico, é considerado um pouco impertinente — quase arrogante — por Angela Merkel. E Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças da Alemanha e seu chefe direto, também não aprecia alguns excessos de auto-confiança demonstrados pelo jovem político. Ainda assim, fez dele ministro-adjunto porque a sua preparação, conhecimento dos dossiês mais importantes e empenho não deixam ninguém indiferente. Nem Schäuble.
Spahn também não deixou ninguém indiferente quando se assumiu como “burkófobo“.
“A Alemanha poderá não ser o país certo para aqueles que querem manter a sua mulher numa burka ou num niqab. Sobretudo nesta altura em que somos um destino procurado por tanta gente, temos de dar alguns sinais claros acerca daquilo que é aceitável e aquilo que não é”.
“As pessoas alemãs querem ajudar os refugiados, mas querem ajudá-los de uma forma ordeira“, afirmou, em entrevista recente ao Observer. Mas, ainda que seja um defensor da tolerância, Jens Spahn diz que os homens muçulmanos deviam levar-se um pouco menos a sério a si próprios. Não faz sentido na sua cabeça, por exemplo, que os homens muçulmanos não queiram tomar banho nus em ginásios públicos, escreve o The Guardian.
Spahn mostra sem pejo que quer liderar o partido conservador na próxima era. E não vê qualquer contradição entre a sua orientação sexual e o conservadorismo político: “Não vejo porque há de haver aí uma contradição. A cultura e os estilos de vida na Alemanha tornaram-se muito mais liberais nos últimos 10 anos, estejamos nós a falar sobre gays e lésbicas ou sobre temas como a imigração”, afirmou.
A questão é, precisamente, essa: “O meu maior receio é que esta nova abertura fique em risco, entre uma cultura islâmica ultra-conservadora e um combate da extrema direita contra a imigração — teremos de lutar com todas as nossas forças para preservar esta abertura” da sociedade alemã, diz Spahn.
Agradar a progressistas e a conservadores?
Posições como esta tornam-no palatável para as novas gerações urbanas e progressistas, mas Spahn não deixa, por isso, de contar com o apoio das alas mais conservadoras do partido dos democratas cristãos.
O ministro-adjunto das Finanças é um homem difícil de derrubar. Diz ter sido alvo de uma campanha negativa, com insinuações sobre a sua sexualidade, quando se candidatou, muito jovem, pela primeira vez na região (muito católica) de Münsterland — “obviamente, a campanha não foi bem sucedida”, diz o próprio, que conseguiu ser eleito.
Mais tarde, em 2013, quis saltar de porta-voz do Ministério da Saúde para ministro. Mas ficou aquém desse objetivo, apesar de ter ganho nome com várias posições que tinha assumido em temas como a reforma do sistema de pensões. Acabou por se ver recambiado para o Ministério das Finanças, mas o que inicialmente parecia um revés está a ser aproveitado por Spahn porque o seu estatuto dentro do Ministério das Finanças permite-lhe estar em contacto com várias áreas do governo.
Toda a gente sabe das críticas que existem a Angela Merkel, dentro do partido, mas Jens Spahn tem medido de forma muito cuidada as suas palavras. Por um lado, o jovem político diz que Angela Merkel tomou uma decisão “lógica e correta” quando abriu as portas aos imigrantes (naquela que ficou conhecida como a decisão de 4 de setembro). “Mas”, acrescentou Jens Spahn, “devíamos ter sido mais rápidos a tornar claro que aquela era uma situação excecional”.