Há quem use sabonetes para o banho, para perfumar gavetas ou lavar as mãos, mas na nova loja da Claus Porto eles são tantos que até servem como tijolos. A instalação está na montra, virada para a Rua da Misericórdia, no Chiado — sabonete a sabonete, Joana Astolfi ergueu uma chaminé de onde saem bolas de sabão que são na verdade feitas de vidro soprado. É só um dos momentos para abrir a boca de espanto na primeira loja da marca em Portugal. À beira de fazer 130 anos, a etiqueta de luxo da Ach Brito quer “entrar na casa das pessoas” e para o fazer nada como mostrar tudo o que tem primeiro.

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A instalação de Joana Astolfi está na montra, virada para a Rua da Misericórdia, no Chiado. (Foto: Victor Machado/Bluepeach)

“Era um objetivo de há muitos anos ter uma loja Claus Porto”, diz Aquiles de Brito, bisneto do fundador, cinco minutos depois de as portas abrirem. Aquiles pertence à quarta geração da família detentora da Ach Brito (que por sua vez detém a Claus Porto e também, desde 2007, a Confiança). Continua a ser sócio da empresa, mas prefere dar o palco a Francisco Neto, CEO da Ach Brito desde que o grupo foi adquirido por um grupo de investidores portugueses, em 2015, com a ambição de “reposicionar a marca e alcançar uma maior expansão internacional” — novas embalagens e lojas próprias incluídas.

Lado a lado na inauguração, Aquiles de Brito e Francisco Neto são um espelho da Claus Porto e da própria loja, onde passado e futuro estão de mãos dadas. Basta olhar para os móveis de madeira, restaurados da farmácia que em tempos funcionou no local, para encontrar isso mesmo. Ao lado dos sabonetes da Claus Porto e das novas velas perfumadas da coleção Art Déco estão latas e frascos antigos, cunhas de sabonetes retiradas do espólio e até, no corredor, retratos a preto e branco da primeira fábrica no Porto e dos seus fundadores. As próprias velas podem ter sido acabadas de lançar mas “têm uma imagem que foi retirada dos arquivos”, explica Francisco Neto ao Observador. “São 130 anos de ilustrações, de litografia própria, de grandes desenhistas, um património que é uma das nossas grandes riquezas e fonte de inspiração.”

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As velas da Deco Collection incluem seis aromas, todos desenhados pela perfumista inglesa Lyn Harris, e são feitas em porcelana. As embalagens incluem ilustrações dos arquivos da marca. Custam 60€ cada. (Foto: Divulgação)

Chamar loja-museu ao novo espaço do Chiado será, no entanto, exagerado. Esse lugar está reservado para a flagship store que abrirá no final do ano, no Porto, onde a marca continua a ser feita. A inauguração está prevista para dezembro, Lisboa veio primeiro “pela coincidência de termos encontrado aqui o espaço perfeito”, diz Francisco.

Voltemos por isso a Lisboa e à loja que abriu esta sexta-feira no Chiado, paraíso de compras e turistas. O espaço foi desenhado pelo arquiteto João Mendes Ribeiro e divide-se em duas salas, com 60 metros quadrados ao todo: na primeira, ao nível da rua, estão os móveis da antiga farmácia com todas as coleções da Claus Porto e um balcão central, espelhado, onde um boião transparente com sabonetes de várias cores faz lembrar aqueles potes de rebuçados das antigas mercearias em que apetece logo meter as mãos.

Descendo as escadas chega-se a uma segunda sala onde se destacam duas cadeiras de barbeiro e uma parede rachada de onde desponta musgo. É a sala dedicada à Musgo Real, a linha masculina e com cuidados para a barba que nasceu com o slogan “use uma vez e usará sempre”. Da janela vê-se a Rua das Gáveas, no Bairro Alto. Há lavatórios para os gentlemen que, em ações pontuais da loja, queiram tratar da barba.

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A segunda sala da loja assemelha-se a uma barbearia para fazer brilhar a linha de homem, Musgo Real. (Foto: Victor Machado/Bluepeach)

Em 1887, a Claus Porto nasceu pela mão de dois senhores e com outro nome, Claus & Schweder, o apelido dos alemães que resolveram abrir a primeira fábrica nacional de perfumes e sabonetes, junto à atual rotunda da Boavista. Em 1903, um terceiro homem juntou-se ao grupo para tratar dos números da empresa: Achilles de Brito entrou como contabilista, tornou-se sócio em 1908 e durante a Primeira Guerra Mundial, com a saída dos alemães do país, acabou por criar a Ach Brito e comprar a Claus & Schweder, batizada, mais tarde, com o nome da sua terra natal.

Ferdinand Claus e Georges Schweder

Ferdinand Claus e Georges Schweder, os dois alemães que fundaram a Claus Porto, antes desta ser adquirida por Achilles de Brito. (Foto: Divulgação)

Desde o início, nas águas perfumadas, nos sabonetes lacrados, nos papéis Belle Époque e nos pós para “conservar e aformosear a beleza”, a Claus Porto dirigiu-se a um público requintado e da nobreza. Hoje, em que as embalagens pintadas à mão voltaram a estar nas prateleiras e as colónias são embaladas em frascos Atlantis, Francisco Neto posiciona a marca dentro do chamado “luxury lifestyle”, um luxo para ser usado no dia-a-dia, um estilo de vida. “Com as velas em casa, com os produtos para a barba, com os presentes que se levam para casa de amigos, queremos que a marca entre na vida das pessoas”, resume.

Por agora pode começar por entrar na vida, e na loja, desta marca portuguesa centenária.

Nome: Claus Porto
Morada: Rua da Misericórdia, 135 (Chiado)
Telefone: 91 721 5855
Horário: Seg-Dom 10h00-20h00