Começa este sábado o Sintra Press Photo, com inauguração marcada para as 17h, no Museu das Artes. À segunda edição, o festival de fotografia tem como tema central o Flagelo Humano. Com este propósito, reúne trabalhos de Mário Cruz (vencedor do prémio Assuntos Contemporâneos do World Press Photo), Dominic Nahr (colaborador habitual da revista Time, NY Times e National Geographic) e Phil Moore (finalista no Visa d’or Prize em Perpignan, França). Ao português, fotojornalista da Agência Lusa, pedimos que escolhesse seis das fotos que vão estar em exposição e que as comentasse.

1

“Esta fotografia mostra a silhueta de J. Gomes, 65 anos, no interior do seu quarto numa moradia abandonada em Lisboa. Ele tem a árdua tarefa de subir três metros, num escadote que ele próprio construiu, sempre que quer entrar na sua “casa” coberta por blocos de cimento em todas as janelas e portas. As paredes e tetos não escondem o passado nem o abandono.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

J. Gomes parqueia automóveis na área de estacionamento de uma das marisqueiras mais procuradas em Lisboa, não recebe salário, apenas as gorjetas dos clientes. Anteriormente tinha trabalhado numa empresa de construção civil durante mais de 15 anos até ao dia em que a empresa pediu insolvência. Saiu sem indemnização e perdeu tudo o que tinha. ‘Eu não me importo com a lama nem com os bichos. Eu só não quero ter com fome outra vez…Eu aceito o meu destino se eu tiver que ficar aqui até meus últimos dias’.”

2

“Carlos e João partilham uma refeição dentro da casa devoluta que encontraram numa vila antiga com ordem para ser demolida. Eles sobrevivem naquele espaço há mais de 3 anos sem qualquer subsídio ou apoio do Estado. Todos os anos, no verão, eles saem do seu abrigo para trabalhar na apanha da fruta e nunca sabem se terão os seus pertences e o seu teto improvisado quando voltarem. João chegou a ter uma mercearia no bairro onde cresceu mas não conseguiu suportar a falta de clientes que escolhiam grandes superfícies comerciais.”

3

“Um edifício abandonado na margem do rio Tejo, onde pessoas sem abrigo costumavam dormir, a porta foi removida para evitar a ocupação daquele espaço. Entretanto, as fracas paredes que serviam de porto seguro para muitos foram demolidas.”

4

“Vítor, 67 anos, dorme na sua cama no interior de uma fábrica abandonada. Ele foi convidado a sobreviver naquele espaço industrial quando outros residentes o encontraram a dormir na rua. O Vítor não comia há muitos dias quando o encontraram com o seu rosto na calçada portuguesa de uma avenida turística de Lisboa.”

5

“C. Carvalho e M. Carvalho sobrevivem desde 2004 no anexo de uma antiga oficina que, outrora, pertenceu a um familiar. A oficina fechou mas o casal continuou por lá durante muitos anos. Todos os dias, se os problemas de estômago não o impedirem, C. Carvalho vai até ao supermercado onde trabalha sem contrato para ganhar o dinheiro necessário que lhe permite pagar o passe da Carris e ter comida para 15 dias. M. Carvalho é surda e muda e não recebe nenhum apoio social. Ela passa os seus dias a olhar para um relógio preso por um cordel enquanto espera pelo regresso do seu marido.”

6

“Um dos residentes de uma vila abandonada em Lisboa dirige-se para a sua fração depois de encontrar um estrado de uma cama junto a um Ecoponto. Na vila sobrevivem mais 9 pessoas que acabaram por remodelar o interior de muitos dos apartamentos apesar de a polícia destruir as suas construções e arrombar as portas regularmente.”

Mais info sobre o Sintra Press Photo aqui.