É imperativo começar este artigo com uma ressalva: se nos circunscrevêssemos aos limites geográficos da Avenida da Liberdade não seria possível passar das três linhas de texto. Contando já com estas. Não se estranhe que assim seja: estranho seria encontrar sítios a servir bem e barato junto às Prada, Louis Vutton, Gucci ou Armani desta vida. E desta avenida. Porém, nem tudo são más notícias: os arredores do mais famoso boulevard alfacinha são férteis em excelentes opções para matar a fome eficaz e economicamente.
Comecemos pelo extremo sul da Avenida, junto à Praça dos Restauradores. De todos os quiosques espalhados pela artéria, é nesta zona que se encontra aquele com o conceito gastronómico mais original, o Bambu – Feed Your Spirit (Avenida da Liberdade, 13), cuja oferta se baseia em sopas e sandes do sudoeste asiático, especialmente da Tailândia e Vietname.
Ainda no campo dos sabores asiáticos, agora do Nepal e Tibete, atenção à surpreendente — sobretudo a avaliar pelo nome — Tasca do Marinheiro (Rua Conceição da Glória, 38. 21 608 1765). Ignore-se a oferta de comida portuguesa dirigida a turistas: aqui as estrelas da companhia são os momo (pequenos pastéis fritos ou cozidos a vapor) e os bhatmas (feijões de soja, reproduzidos na foto abaixo), excelente companhia para uma cerveja (ou várias) são as estrelas da companhia. Os pratos vegetarianos, de origem nepalesa, também são de confiar.
E por falar em opções vegetarianas, a Praça da Alegria, ainda na mesma zona, tem duas de excelente valia. E em conta. O Planeta Bio (Praça da Alegria, 40. 21 809 2063), sempre com vários pratos do dia disponíveis — seja feijoada de seitan, lasanha de legumes, paelha vegetariana, entre outros –, e o Jardim dos Sentidos (Rua Mãe d’Água, 3. 21 342 3670), cujo buffet (8,90€) é dos melhores da cidade nesta matéria e respetivo jardim interior um cenário idílico e relaxante q.b.
Ainda na Praça da Alegria destaque para o Brooklyn Lisboa (Praça da Alegria, 35-37. 21 346 0201). Aqui, as quintas-feiras são especiais: o espaço faz-se valer das suas raízes cabo-verdianas e serve cachupa ao almoço. Nos outros dias há sempre um menu com dois pratos disponíveis a menos de 10€.
Aproveitemos o embalo para falar de outro destino para cachupa: a Associação Caboverdeana de Lisboa (Rua Duque de Palmela, 2. 21 353 1932). Fica, também ela, nos arrabaldes da Avenida da Liberdade, perto do cruzamento com a Alexandre Herculano, e junta a cozinha típica do arquipélago a muita animação — nos dias de música ao vivo, terças e quintas, não falta quem alterne garfadas com passos de dança. Os preços são tão simpáticos como o atendimento: mesmo com espetáculo incluído a refeição não ultrapassa os 10€.
Do outro lado da avenida encontra-se a cafetaria MadMary (Rua Rodrigues Sampaio, 29. 21 354 0317), uma das novidades deste verão. O respetivo menu sugere sanduíches substanciais e diversas, com recheios interessantes, do peru fumado ao ovo e ricotta, e saladas saudáveis. Para quem prefere o pão apresentado de outra forma, com topping de mozzarella e tomate, nada como uma visita à cafetaria do Cinema São Jorge, vulgo Pizzas Baldracca (Avenida da Liberdade, 175. 91 180 9484), no primeiro andar do espaço. A massa é fina e os recheios competentes, com a curiosidade de cada pizza ter o nome de um clássico do cinema italiano. Os preços andam entre os 7 e os 9€.
E comida típica portuguesa de qualidade? Não falta, caro(a) leitor(a), é preciso é saber procurá-la. A sul, na direção do Rossio, é imperdível A Provinciana (Travessa do Forno, 23-25. 21 346 4704), onde a comida é de conforto e os preços de amigo — a dose do prato do dia raramente ultrapassa os 5€. A terça-feira é dia de chanfana e a quinta de cozido, ambos servidos em doses mais generosas que as taxas de juro oferecidas pela Dona Branca.
A 110 metros de distância, segundo o Google Maps, fica O Churrasco (Rua das Portas de Santo Antão, 83. 21 342 3059), outro dos pouquíssimos restaurantes da zona que não se dedica a atrair turistas recorrendo a menus de gosto duvidoso temperados com promessas de “very typical food, sir!” Aqui, o frango assado no espeto (12,50€, dá para duas pessoas) é um porto seguro. O ligeiro sabor a limão do bicho, as batatas fritas à rodela impecavelmente fritas e o esparregado guloso só perdem para as jaquetas impecavelmente aprumadas dos empregados, que parecem saídos de um qualquer paquete de luxo dos anos 70.
Mas há mais: de bons restaurantes portugueses de gama média, mas com sugestões de almoço em conta, como o Floresta do Salitre (Rua do Salitre, 42D. 21 354 7605), a casas mais simples, vulgo tascas, onde a cozinha é de mão-cheia. Três sugestões do género: o Esquina da Fé (Rua da Fé, 60. 21 342 0051), da dupla Gomes e Meireles, o Forninho Saloio (Travessa das Parreiras, 39. 21 353 2195), onde o mestre Arlindo toma conta da grelha com mestria e O Cartaxinho (Rua de Santa Marta, 20. 21 356 2971), onde a cabidela (à segunda-feira) e o pernil assado (quinta-feira) rivalizam com o carisma de Aurélio, empregado sportinguista ferrenho que não se inibe, contudo, de anunciar sempre que pode à clientela que já foi SLB: “Sensual, louco e bonito!”