Novembro, dia 2. A data é especial. O Sporting viaja a Coimbra para defrontar o aflito Académico. Isso mesmo, naqueles tempos é no masculino. O treinador Juca leva Jesus entre os 16, como sempre. E senta-o no banco, como é habitual. A seis minutos, já com 3-1 no marcador, faz entrar Jesus para o lugar de Marinho e o homem só demora 270 segundos para encontrar o caminho da baliza de Belo, que, entretanto, substituíra o lesionado Araújo. É um golo sem história, “marcado pelo ex-estagiante de terras algarvias”, escreve o Diário de Lisboa, numa alusão à época anterior (1974-75) em que Jesus actua no Olhanense. Memorize bem a data: 2 Novembro (de 1975). É o único golo de Jesus pelo Sporting.

Quarenta e um anos depois, Jesus quer marcar outro golo. E novamente saído do banco. A surpresa maiúscula é o inovador esquema táctico 3-4-3, com regresso de Paulo Oliveira (ao lado de Coates mais Rúben) e estreia a titular de Castaignos no lugar de Bas Dost. Os laterais Schelotto e Zeegelaar jogam subidos, na mesma linha de William e Bruno César. Lá na frente, o irrequieto Gelson à direita e Bryan à esquerda. O Dortmund joga sem Aubameyang, o quebra-cabeças do 2-1 em Alvalade de há 15 dias, e recupera Adrián Ramos para a posição 9 sem esquecer ainda o regresso do campeão europeu Raphaël Guerreiro como lateral-esquerdo. O início é frenético (não tanto como o Légia-Real em que Bale marca aos 57 segundos) e toma-se conhecimento da imparcialidade distorcida do árbitro, sem apitar dois penáltis, um de Coates sobre Pulisic (3′), outro de Bartra sobre Castaignos (6′).

Confortável em campo, o Sporting é imune ao apoio ruidoso e colorido dos adeptos do Dortmund. Além de ganhar dois cantos, Gelson tem uma jogada desconcertante aos 11 minutos, sem a devida continuidade de Bruno César. Curioso, esse é o lance capital. O brasileiro quer entrar com a bola na área e é desarmado. Desse corte sai um contra-ataque, prontamente interrompido por Rúben. É cartão amarelo, o primeiro do jogo. O Sporting organiza-se, o Dortmund também. Bola para trás, mais para trás ainda e, depois, toma lá este passe longo. A defesa leonina é apanhada em contra-pé e Ginter saca um cruzamento perfeito para a entrada da pequena área, onde Adrián salta mais alto que Paulo Oliveira. O cabeceamento é forte, a bola vai pingada, junto ao poste, e Patrício lança-se em vão. É golo, aos 12 minutos.

Estranho, o Dortmund não se agiganta com a vantagem. Deixa-se estar, amarrado ao magro 1-0. Disso se aproveita o Sporting para continuar a jogar de forma elétrica, em todo o campo. Os alemães sentem dificuldades em sair para o ataque e a bola nem sai do meio-campo até ao momento Gelson. Há sempre um em todos os jogos, este aos 27 minujtos. O jovem recebe de costas e liberta-se de um adversário com um toque delicioso. Castaignos recebe e devolve para Gelson, já dentro da área. Vale a rápida saída de Bürki a impedir males maiores. Aos 31′, mais Sporting com um cruzamento da esquerda de Zeegelaar para o remate de Gelson contra o corpo de Bartra. O duplo aviso é repelido pelo Dortmund com uma avalanche de ataques. No primeiro de todos, Götze ataca pela direita e oferece o 2-0 a Pulisic. A bola esbarra na trave de Patrício. Até ao final da primeira parte, o Dortmund anima os seus adeptos com um remate de Ginter à figura de Patrício (40′), outro de Dembélé por cima (41′) e mais um de Guerreiro às malhas laterais (45′).

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Há curiosidade, muita curiosidade, em ver o Sporting após o intervalo. Entra Bas Dost para o lugar de Castaignos (o leão continua a falar holandês lá à frente) e o Dortmund continua apático, sobretudo sem ideias para espantar a estrutura leonina. Tanto assim é que a primeira defesa digna desse registo de Patrício só acontece aos 75′, num livre de Schürrle. Antes, muito antes (49′), já Gelson obrigara Bürki a um mergulho com nota 9,7. Daí até ao fim, aplaude-se o regresso energético do capitão Adrien (dois remates por cima, ah valente) e só mais uma oportunidade real de golo, através de um cabeceamento de Bryan na sequência de um cruzamento venenoso de Schelotto. Nããããã, ainda não é hoje. Ainda não é hoje que o Sporting ganha na Alemanha (12 derrotas em 13 jogos). E ainda não é hoje que o Sporting repete o feito do Belenenses, a única equipa portuguesa a ganhar em Dortmund (2-1 em Abril 1950).

Quando o apito do árbitro soa, já só há um alemão incansável. É ele Weigl, autor do 2-0 em Alvalade. O homem faz trinta-por-uma-linha, com 91% de eficácia no passe (o mais lúcido de todos) e 12 quilómetros nas pernas (o mais esforçado de todos). O Sporting, esse, vai para o balneário a abanar a cabeça. É o segundo jogo europeu fora bem conseguido e sem prémio. O que vale é o inesperado 3-3 do Real Madrid em Varsóvia à porta fechada (os adeptos do Légia tramam a equipa). Só assim é que o Sporting continua ligado à máquina calculadora com vista a um lugar nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Daqui a três semanas, há clássico espanhol com o Real em Alvalade. Que, dessa vez, o load aspas aspas enter não encontre falhas.

Estádio Signal Iduna Park, em Dortmund
Árbitro: Danny Makkelie (Holanda)
DORTMUND: Bürki; Ginter, Sokratis, Bartra e Guerreiro; Weigl; Pulisic, Castro (Rode, 69′), Götze (Piszczek, 69′) e Dembélé (Schürrle, 46′); Adrián Ramos
Treinador: Thomas Tuchel (alemão)
SPORTING: Rui Patrício; Coates, Paulo Oliveira e Rúben Semedo; Schelotto, William, Bruno César (Adrien, 58′) e Zeegelaar; Gelson, Castaignos (Bas Dost, 46′) e Bryan (Markovic, 78′)
Treinador: Jorge Jesus (português)
Marcador: 1-0, Adrián Ramos (12′)