Moçambique foi o país mais afetado em 2015 pelos fenómenos climáticos extremos e quase metade dos Estados mais atingidos estão em África, conclui um relatório publicado esta terça-feira em Marraquexe, por ocasião da conferência da ONU cobre o clima (COP22).

“A África é particularmente vulnerável aos impactos das alterações climáticas”, sublinhou Sönke Kreft, autor principal do 12.º “índice anual dos riscos climáticos” publicado pela organização não-governamental Germanwatch.

De maneira geral, os países pobres são os mais expostos às tempestades, ondas de calor, inundações ou secas, fenómenos cuja intensidade e frequência aumenta sob o efeito do aquecimento global.

“A repartição dos fenómenos climáticos não é equitativa”, acrescentou Kreft, lembrando que os países em desenvolvimento só são historicamente responsáveis por uma parte muito pequena das emissões de gases com efeito de estufa na origem destes fenómenos.

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O índice da Germanwatch regista os acontecimentos extremos em 180 países, com base em dados da seguradora alemã MunichRe, entre outros.

Em 2015, o país mais afetado por fenómenos climáticos foi Moçambique, com 351 mortes atribuíveis aos fenómenos extremos, que provocaram danos estimados em 500 milhões de dólares.

No ano passado, recordam os autores do estudo, Moçambique foi atingido por graves inundações que resultaram de chuvas intensas que começaram em dezembro de 2014 e duraram até ao fim de janeiro de 2015 ou mais.

Cerca de 325 mil pessoas foram afetadas pelas inundações em Moçambique e 163 pessoas morreram.

As inundações também provocaram consequências severas nas infraestruturas e na agricultura e levaram a surtos de doenças como a cólera.

Os restantes países mais afetados pelos fenómenos climáticos em 2015 são a Dominica, Maláui, Índia, Vanuatu, Birmânia, Bahamas, Gana, Madagáscar e Chile.

A África, continente que acolhe a COP22, a decorrer em Marraquexe até dia 18, é particularmente afetada, com quatro dos 10 países mais atingidos em 2015 (Moçambique, Maláui, Gana e Madagáscar).

Entre os 10 países africanos mais afetados em 2015 pelos fenómenos climáticos extremos estão quatro países de língua portuguesa: Moçambique (1.º lugar), Cabo Verde (8.º), Guiné-Bissau (9.º) e Angola (10.º).

Moçambique é também o segundo país africano mais afetado nos últimos 20 anos.

De 1996 a 2015, perto de 11.000 episódios extremos mataram 528 mil pessoas no mundo, sublinha o relatório.

Tempestades, vagas de calor e inundações custaram mais de 3.000 mil milhões de dólares (2.700 mil milhões de euros) no mesmo período.

Dos dez países mais afetados nas duas últimas décadas, nove eram países em desenvolvimento no grupo dos Estados de baixo e médio-baixo rendimento.

Ao longo destes 20 anos, os países mais afetados foram as Honduras, a Birmânia e o Haiti.

As Filipinas, o Bangladesh, o Paquistão, o Vietname e a Tailândia foram também particularmente afetados, tanto em termos humanos como financeiramente.

O ranking da Germanwatch tem em conta o número absoluto de mortos e a taxa de mortalidade associada aos fenómenos climáticos, assim como as perdas financeiras absolutas e as perdas por unidade do PIB.

A 22.ª conferência do clima da ONU decorre até 18 de novembro com a concretização do Acordo de Paris, alcançado no ano passado, na ordem do dia.