O movimento estudantil universitário venezuelano questionou neste domingo os acordos conseguidos no sábado, entre Governo e oposição, e declarou que vai manter os protestos até à realização de eleições regionais e de um referendo revogatório presidencial.

“Ao estar fechada a via eleitoral e perante os acordos insuficientes, alcançados até ao momento na mesa de diálogo, a manifestação continuará a ser a única ferramenta que temos – [nós] os cidadãos – para gerar a mudança. [Nós], os estudantes, continuaremos mobilizados nas ruas, articulando as reivindicações de todos os setores da sociedade, para conseguir as mudanças que deem resposta à profunda crise económica, política e social que vivemos”, lê-se no comunicado do movimento estudantil universitário venezuelano, divulgado hoje em Caracas.

O documento foi divulgado depois de o ex-candidato presidencial Henrique Capriles Radonski apelar aos venezuelanos, através do Twitter, para “retomarem de imediato a agenda de mobilização popular, em todo o país”.

“É uma tarefa de todos. A crise cada dia é pior”, escreveu Capriles, o principal promotor do referendo revogatório do mandado do Presidente Nicolás Maduro, precisando que dialogar não significa renunciar nem ter de renunciar aos direitos dos venezuelanos.

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No comunicado hoje divulgado, o movimento estudantil explica que, “devido à necessidade do país em conseguir uma ‘saída’ [solução] eleitoral e constitucional para a crise política”, exige “que se estabeleça um calendário eleitoral claro”, em que sejam definidas todas as etapas, de modo a “que permita aos venezuelanos exercerem esse direito constitucional”.

“[Nós] venezuelanos não estamos em condições de continuar a esperar dádivas do Governo”, afirma o documento. Segundo os estudantes, “os acordos alcançados não produziram resultados suficientes para as expectativas do Movimento, nem da sociedade, sobre o calendário eleitoral”.

Os estudantes também “exigem” ao Governo “que respeite e cumpra os compromissos feitos e avance com a abertura de um canal humanitário”, para permitir a entrada de alimentos e medicamentos no país, “e a efetiva libertação de todos os estudantes e presos políticos”.

“Os atores que participam no diálogo têm a responsabilidade, perante o país, de dar soluções à crise que vivemos, por isso, se não se conseguirem resultados concretos nas negociações, é necessário reativar o julgamento político, para determinar o abandono do cargo de Nicolás Maduro”, explicam.

O Governo venezuelano e a oposição acordaram, no sábado, trabalhar conjuntamente, para a recuperação da economia e o combate à insegurança, tendo agendado nova reunião de diálogo para o próximo dia 6 de dezembro. Decidiram ainda “baixar o tom” dos discursos e promover a paz com base no reconhecimento e respeito mútuo.

Foram igualmente definidos objetivos para normalizar o respeito entre os diferentes poderes e para normalizar o abastecimento de alimentos e medicamentos à população. Chegaram ainda a um acordo para designar dois novos reitores para o Conselho Nacional Eleitoral, cujo período termina em dezembro, e atuar de maneira diligente na defesa do Esequibo, território reclamado pela Venezuela e a Guiana.

Do acordo faz ainda parte a repetição de eleições no Estado venezuelano de Amazonas, impugnadas pelo ‘chavismo’, por alegadas irregularidades na campanha para as legislativas de 06 de dezembro, e que levaram o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) a declarar o “desacato” do parlamento (não acatar decisão do tribunal), por ter ajuramentado três deputados, cuja proclamação o STJ ordenara suspender.

No dia 30 de outubro, o Governo e a oposição iniciaram um diálogo, sob a mediação do Vaticano e da Unasul (União das Nações Sul-americanas), que terminou com a decisão de ambas as partes de instalar quatro mesas de trabalho (negociação).

No dia 01 de novembro, o parlamento venezuelano, onde a oposição detém a maioria, adiou “por alguns dias” um debate para determinar a responsabilidade política do Presidente Nicolas Maduro, no que diz ser uma “rutura da ordem constitucional” no país. A 11 e 12 de novembro, ocorreram a segunda e a terceira reuniões de diálogo.