Miguel Tiago, deputado comunista e coordenador do grupo parlamentar do PCP na comissão de inquérito da Caixa Geral de Depósitos, não tem dúvidas: “Num futuro que não será tão distante quanto isso o controlo da banca terá de ser inteiramente público”.

Em entrevista ao Observador durante o XX Congresso do PCP, o deputado comunista garantiu que o partido não abdicará da nacionalização do sistema financeiro, mesmo que isso implique custos. O contrário, continuou Miguel Tiago, significa a continuação de um caminho de destruição dos setores estratégicos nacionais.

Quanto é que já nos custou a privatização da banca? Quanto é que já perdemos quer em dividendos quer no controlo de uma alavanca fundamental da economia? A verdade é que os bancos, enquanto o lucro foi privado, levaram o lucro para fora do país. Quando os buracos se revelaram acabaram por ficar nas mãos de todos os portugueses. Esse custo poderia ter sido evitado se a banca fosse pública”, argumentou Miguel Tiago.

O deputado comunista explica, no entanto, que a solução do PCP não passa necessariamente pela “nacionalização imediata de todas as instituições bancárias”. Primeiro, teria de ser feito um levantamento dos bancos que realmente “são importantes para o sistema financeiro”. Só depois, continuou Miguel Tiago, se avançaria para uma solução que podia passar pela “presença do Banco de Portugal ou do próprio Governo na administração ou na fiscalização das instituições financeiras” e pelo “controlo parcial do capital dessas instituições”.

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Para o PCP o controlo público da banca será um “processo progressivo”. Mas, numa altura em que se discute o futuro do Novo Banco, Miguel Tiago não tem dúvidas: “Nós pagámos o BES. Se já pagámos o banco [não o podemos] devolver ao meio que o lesou, às mãos dos capitalistas”. Resta saber o que fará o Governo socialista, recordando que António Costa já admitiu manter o banco na esfera pública.

Confrontado com as recentes declarações de António Costa, que acusou o Governo PSD/CDS de ter “destruído” o BES, Miguel Tiago também foi inequívoco: “A responsabilidade da queda do BES será partilhada por todos os Governos que permitiram que se desenvolvesse um império daquele tamanho”.

“Não podemos ter a ilusão estapafúrdia de que as conclusões da comissão de inquérito que foram votadas por todos os partidos — menos o PCP — são reais. Que tudo era muito bonito, mas que havia um bandido que era o Ricardo Salgado que estragou tudo. Isso é uma visão delirante. Infelizmente foi essa a conclusão da comissão de inquérito por força do que PS, PSD, CDS e Bloco de Esquerda — pelo menos em parte — quiseram construir”, insistiu o deputado comunista.

Sobre a gestão do processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, Miguel Tiago deixou claro que, se alguém no Governo assumiu um compromisso com a equipa de António Domingues isentado-a de entregar a declaração de rendimentos junto do Tribunal Constitucional, então “assumiu mal” e terão de ser “assumidas responsabilidades”. Quanto a Paulo Macedo, o futuro presidente da Caixa, o deputado comunista disse apenas que o PCP continuará atento ao rumo seguido pela administração do banco público.

A terminar, e questionado sobre uma eventual renovação do acordo celebrado com os socialistas, o deputado comunista deixou uma última garantia: “Nenhuma proposta que seja boa para o povo português merecerá o voto contra do PCP e nenhuma oportunidade que o PCP tenha para melhorar a vida do povo português será desaproveitada”. O futuro e as circunstâncias políticas ditarão se é possível repetir um acordo e o nível de compromisso assumido.