O exército sírio deve recuperar esta terça-feira o controlo de toda a cidade de Alepo, a segunda maior cidade da Síria, que desde 2012 estava nas mãos dos rebeldes. As forças afetas ao presidente sírio, Bashar al-Assad, apoiadas por tropas aliadas russas, lançaram uma ofensiva há cerca de três semanas com o objetivo de recuperar a zona leste da cidade, um dos mais importantes bastiões dos rebeldes da oposição ao regime.

Ao final desta segunda-feira, as forças governamentais afirmavam que já tinham recuperado 98% da área. À medida que o exército tem recuperado o controlo de partes da cidade, milhares de pessoas estão a fugir de Alepo. Pelo menos 130 mil pessoas já deixaram a cidade, nas últimas três semanas, segundo dados do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Na manhã desta terça-feira, os militares do exército sírio efetuaram buscas nos bairros que já foram controlados. O responsável do OSDH, Rami Abdel Ahman, confirmou à AFP que “o regime está a vasculhar as zonas de Bustan al-Qasr, Kalasseh, Fardaws e outros bairros que capturou na segunda-feira”. No entanto, acrescentou o responsável, o regime ainda não avançou para novas áreas esta terça-feira, estando apenas a consolidar o controlo obtido nas últimas semanas.

Ainda segundo a AFP, que tem jornalistas em Alepo, as populações das áreas que já foram recuperadas pelo regime têm saído à rua para celebrar a vitória do exército sírio. A confirmar-se a recuperação total da cidade de Alepo, esta será a primeira grande derrota para o lado da oposição a Bashar al-Assad, já que o governo passará a ter o controlo das principais cidades do país.

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“A batalha na zona leste de Alepo deverá acabar rapidamente. Eles [os rebeldes] não têm muito tempo. Têm de se render ou morrer”, disse à Reuters o general Zaid al-Saleh, o líder do comité de segurança do governo sírio.

Entretanto, a cidade está a ser devastada. Habitantes ouvidos pelo The Guardian dão conta de uma cidade completamente destruída, devido aos bombardeamentos constantes. Isto porque o avanço do exército sírio tem sido feito à custa de bombardeamentos e raides aéreos permanentes, com os mais recentes a serem considerados dos mais intensos de toda a guerra civil do país. Para os habitantes, ficar na cidade significa uma condenação à morte — seja pelos bombardeamentos, seja pelos próprios militares.

Um jornalista de Alepo que tem vindo a documentar as mortes de civis às mãos do regime sírio nas últimas semanas disse ao The Guardian que teme ser morto pelo governo assim que a cidade for controlada. “Temos medo da invasão. Já só há cinco bairros restantes, e o regime está a pensar invadir o que resta e prender-nos a todos”, afirmou.

ONU alerta para atrocidades contra civis

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, alertou, esta terça-feira, para relatos transmitidos nas últimas horas sobre estarem a ser cometidas atrocidades contra um grande número de civis na cidade síria de Alepo. O responsável das Nações Unidas sublinhou, num comunicado, a necessidade de todos os lados da batalha de “proteger os civis e respeitar as leis internacionais humanitárias e dos direitos humanos”, acrescentando que se trata de uma “responsabilidade particularmente do governo sírio e dos seus aliados”.

“Embora sublinhando que a ONU não consegue verificar de forma independente aquela informação, o secretário-geral manifesta a sua preocupação às partes interessadas”, afirmou Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas.