O comércio de proximidade em Portugal encontra-se “melhor do que nunca” nesta quadra de Natal, apresentando “uma oferta renovada” e registando “muita procura”, disse à Agência Lusa o especialista em urbanismo comercial João Barreta. “Já há muitos anos que não tinha esta impressão”, declarou João Barreta, considerando que o comércio de proximidade está “numa fase de crescente afirmação”.

De acordo com o especialista — licenciado em Organização e Gestão de Empresas e mestre em Gestão do Território, com vários trabalhos publicados –, “há uma certa recuperação do poder de compra” por parte dos portugueses, o que se tem refletido no comércio. “Este Natal, do ponto de vista do comércio de proximidade, é um ano de retoma e de recuperação”, reforçou.

No entender de João Barreta, a postura dos comerciantes está diferente, com “um otimismo renovado”, uma vez que “a confiança do consumidor retomou a níveis que há muitos anos não se tinham e naturalmente que isso se reflete também nas compras”. Neste sentido, “os portugueses gastarão mais do que gastaram em anos anteriores” nesta época natalícia, perspetivou, sem se arriscar a adiantar um número em relação ao crescimento das vendas.

Em relação às tendências de consumo, João Barreta defendeu que “os portugueses são muito tradicionalistas”, dando preferência à compra de produtos de pronto-a-vestir, brinquedos, livros e informática.”Todos os anos isso se repete, se bem que este ano desconfio que com maior incidência no aumento das faturações por parte dos comerciantes”, acrescentou.

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Para o especialista, o comércio de proximidade é “já quase como uma marca”, em que se “pode encontrar um pouco de tudo”, desde o artesanato à restauração. É este tipo de comércio que “marca a diferença, tanto a nível da oferta como de outras características, nomeadamente o atendimento personalizado, a localização e o convívio com diferentes formatos”, referiu, comentando que nos centros comerciais são “sempre as mesmas lojas”.

Em relação à cidade de Lisboa, o especialista indicou que “o turismo tem muita influência” no crescimento das vendas, mesmo no período de Natal: “Não há dúvida nenhuma. Penso que o turismo terá uma quota-parte muito importante nessa recuperação do volume de negócios dos comerciantes, seja a nível do dito comércio de proximidade, seja também nos centros comerciais”. A nível nacional, “é notória a modernização do comércio” nos centros das cidades, afirmou, referindo que “há uma oferta renovada, fruto também da procura”.

Apesar das boas previsões para as vendas de Natal, João Barreta alertou para a diferença entre o comércio e o consumo, explicando: “O comércio há todo o ano, o consumo também, mas nesta altura confunde-se muito, ou seja, há um apelo muitas vezes excessivo não ao comércio – isso era bom que houvesse, porque o comércio tem que sobreviver todos os dias -, mas é essencialmente ao consumo”.

Na quadra natalícia, “gasta-se mais, pensa-se essencialmente no tempo presente e esquece-se um bocadinho o futuro”, frisou o especialista. “Não é por acaso que depois chegamos a janeiro e os comerciantes têm que recorrer à estratégia dos saldos, porque sabem perfeitamente que o poder de compra diminui bastante nessa altura, porque gastaram demais no Natal e não pensaram tanto no futuro”, descreveu.

Na sua opinião, é ainda desejável que o consumo dos portugueses na época de Natal reflita “uma preocupação com a sustentabilidade e com o ambiente”, o que já começa a acontecer na área da alimentação. “No Natal, o que se reflete muito nos gastos das famílias tem a ver com a parte da alimentação e penso que é notório, de ano para ano, a crescente preocupação com uma alimentação mais cuidada”, afirmou.

João Barreta, que já foi presidente da Agência para a Promoção da Baixa-Chiado e da Assembleia-Geral do Centro de Arbitragem e Conflitos de Consumo de Lisboa, é atualmente diretor de Serviços de Planeamento, Informação e Recursos Humanos na Direção Geral das Artes. Venceu o prémio Consumus Dixit na categoria de “Melhor trabalho jornalístico”.