O ainda secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, aproveitou o Dia Internacional do Migrante para condenar a “inaceitável perda de milhares de vidas” no Mediterrâneo e a ascensão do populismo que ataca aqueles que chegam de outros países.

“Este foi outro ano turbulento para refugiados e migrantes”, referiu Ban Ki-moon numa mensagem divulgada este domingo, na qual recordou os muitos povos que continuam a sofrer os efeitos dos conflitos armados e que enfrentam “a morte, a destruição e o deslocamento”.

“Temos presenciado uma inaceitável perda de vidas de pessoas em trânsito no Mediterrâneo e em outros lugares. Temos sido testemunhas do crescimento de movimentos populistas que procuram isolar e expulsar migrantes e refugiados, e culpá-los pelos vários problemas da sociedade”, acrescentou.

Segundo o ainda secretário-geral da ONU, é fundamental que os governos cumpram os compromissos assumidos em setembro passado, quando concordaram em sede das Nações Unidas avançar com uma gestão internacional dos movimentos populacionais, um documento que ficou conhecido como “Declaração de Nova Iorque”.

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O recente documento promete, como lembrou o sul-coreano, que tudo deve ser feito com compaixão, colocando a prioridade nas pessoas, tendo em conta as questões de género e os direitos humanos.

“Cada migrante é um ser humano com direitos humanos. Proteger e defender os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos os migrantes, independentemente do seu estatuto, é um dos princípios fundamentais da Declaração de Nova Iorque”, frisou Ban Ki-moon.

O documento de compromisso, adotado pelos líderes dos 193 Estados-membros da ONU, deve dar origem, nos próximos anos, a acordos mais concretos para proteger refugiados e migrantes.

“Devemos rejeitar a intolerância, a discriminação e a retórica xenófoba de culpar os migrantes. Aqueles que abusam e procuram prejudicar os migrantes devem pagar por isso”, defendeu.

Nesse sentido, Ban Ki-moon instou a comunidade internacional a promover migrações seguras, regularizadas e ordenadas, como uma “importante contribuição para a construção de um mundo de paz, prosperidade, dignidade e de oportunidades para todos”.

O Dia Internacional do Migrante é celebrado anualmente a 18 de dezembro. A data foi proclamada em 2000. A crise humanitária que tem levado milhares de migrantes e refugiados a procurarem refúgio na Europa, arriscando a vida em barcos frágeis e sobrelotados, atingiu proporções inéditas em 2016.

De acordo com o último balanço da Organização Internacional para as Migrações (OIM), divulgado na sexta-feira, o Mediterrâneo viu passar pelas suas águas 357.249 pessoas, com destino à Europa, sobretudo a Grécia e Itália, mas alguns também a Espanha e Chipre.

E o número de vítimas mortais continua a aumentar. Até 15 de dezembro, morreram ou estão desaparecidos 7.189 migrantes e refugiados nas várias rotas migratórias — uma média de 20 por dia. Mais de metade destas vítimas morreu no Mediterrâneo.

O antigo primeiro-ministro português e ex-Alto Comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, vai suceder a Ban Ki-moon no cargo de secretário-geral das Nações Unidas a partir do dia 01 de janeiro de 2017.