O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou esta quinta-feira que Portugal tem “verdadeiramente um problema demográfico” e comentou que “é fácil notar” o efeito da crise económica no aumento da emigração portuguesa, principalmente entre 2010 e 2014.

“É fácil notar o efeito específico da crise desde 2008 e, depois, com particular expressão com o programa de ajustamento entre 2011 e 2014, no reforço da saída de emigrantes portugueses”, disse Augusto Santos Silva, na apresentação do relatório da emigração de 2015, documento que foi entregue esta quinta-feira de manhã na Assembleia da República.

O estudo aponta que no ano passado 110 mil portugueses saíram do país, mas os responsáveis afirmam que ainda não é possível perceber se há uma estagnação ou mesmo uma ligeira descida da emigração, já que dados novos permitem perceber que a emigração em 2013 foi de 120 mil pessoas, portanto, superior ao número estimado no passado.

Para o chefe da diplomacia portuguesa, “é relativamente simples colocar a hipótese de haver uma relação causal que leva a que os efeitos de recessão económica e redução do mercado de emprego a que assistimos em Portugal entre 2010 e 2014 tenham produzido o efeito de aumento da emigração portuguesa”.

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Desde 2014, assistimos a dados que reforçam a ideia que o pico [de 2013] não mais foi atingido e que a emigração portuguesa terá pelo menos estabilizado, e pode já ter iniciado uma trajetória de redução”, comentou.

O ministro sublinhou que será importante “olhar com muito cuidado” para os dados da emigração em 2016, ano em que Portugal tem “consistentemente aumento da população ativa, aumento do volume de emprego e redução da taxa de desemprego”.

Santos Silva referiu que Portugal tem “verdadeiramente um problema demográfico”, com o saldo natural negativo (mais pessoas a morrer do que pessoas a nascer anualmente) e um saldo migratório negativo (mais pessoas a sair do que a entrar). A pressão demográfica é “um dos problemas estruturais da sociedade” portuguesa, ao qual o Governo deve “prestar toda a atenção”.

Antes, Santos Silva referiu que Portugal teve “dois sinais de alarme” na primeira metade desta década: por um lado, “a súbita explosão da emigração portuguesa para valores que historicamente só tinham comparação com os anteriores ao 25 de abril” e, por outro, “a queda abrupta de imigração”.

O coordenador do Observatório da Emigração, Rui Pena Pires, confirmou que o indicador que é mais associado à emigração é a taxa de emprego, ou seja, a criação de emprego. “A qualidade do emprego leva à emigração, tanto quanto o desemprego ou a falta de emprego“, disse.