O maior partido da Oposição em Cabo Verde (PAICV) considerou esta quinta-feira “avulsa” e “voluntarista” a decisão anunciada de isentar de vistos cidadãos europeus, estranhando que o Governo não tenha envolvido os partidos nesta discussão. O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, anunciou, segunda-feira, a intenção de isentar de visto de entrada no país, a partir de maio, os cidadãos da União Europeia, incluindo do Reino Unido, medida considerada “absurda” pelo ex-primeiro-ministro José Maria Neves.

Para o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), sob cujos governos foi negociada e assinada a Parceria Especial com a União Europeia, não se entende a tomada dessa medida fora desse acordo, que cumpre este ano uma década e deverá ser revisto.

“Não se entende que, fora desse quadro, se venha a tomar decisões avulsas, unilaterais e voluntaristas, sem acordos e sem se colocar em cima da mesa das negociações o princípio da reciprocidade que é a pedra de toque na relação de Cabo Verde com o mundo e com a União Europeia, em particular”, disse esta quinta-feira o vice-presidente do partido, Rui Semedo.

Rui Semedo, que falava esta quinta-feira em conferência de imprensa, na cidade da Praia, lamentou também que o Governo não tenha envolvido o parlamento e os partidos políticos na discussão de uma matéria de política externa, que deveria reunir consenso nacional.

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“O Governo tem que clarificar se quer discutir com os cabo-verdianos e os partidos políticos as soluções que acautelem os interesses do país, não firam a nossa dignidade e não escandalizem a sensibilidade dos nossos parceiros, acostumados a lidar com um país maduro, sério e firme nas suas convicções”, disse Rui Semedo.

Para o PAICV, “a política externa deve ser feita com base no pragmatismo e bom senso, o que implica, neste caso, acautelar o princípio da reciprocidade, mesmo que seja na base de acordos bilaterais com países da União Europeia, garantindo aos cabo-verdianos direitos iguais aos que são atribuídos aos cidadãos estrangeiros”.

Manifestando-se disponível para o diálogo, o PAICV disse esperar que seja promovido “um debate sério, despido de preconceitos ou fantasmas de índole ideológica” e “com base na salvaguarda dos superiores interesses do Estado de Cabo Verde”.