O Ministério da Defesa russo está em polvorosa. A demissão do vice-ministro Timur Ivanov por ter recebido um suborno causou ondas de choque na tutela liderada por Sergei Shoigu. Ora, segundo o Financial Times, o cargo do ministro pode estar mesmo em risco. A 7 de maio, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, apresenta o governo para os próximos anos, na sequência das eleições presidenciais de março, e poderá fazer remodelações profundas neste ministério, essencial num momento em que o país leva a cabo uma guerra na Ucrânia.

Segundo fontes ouvidas dentro do Ministério pelo Financial Times, a demissão de Timur Ivanov foi um revés, que poderá revelar-se fatal, para o percurso político de Sergei Shoigu. “Eles podiam tê-lo despedido primeiro se quisessem apenas enfraquecer Shoigu. Em vez disso, [o vice-ministro] foi detido no exercício do cargo, com farda, logo após a reunião do Ministério da Defesa, em que [Timur Ivanov] estava sentado a uma cadeira de distância de Shoigu”.

Para a mesma fonte, todos os pormenores relacionados com a detenção do vice-ministro foi um “teatro” para “minar” politicamente Sergei Shoigu, que manterá uma relação de amizade com Vladimir Putin.

Ao longo dos últimos dois anos e dois meses de guerra, o ministro da Defesa tem-se mantido no cargo, apesar de todos os problemas que a Rússia enfrentou no campo de batalha. Nas fases inicias do conflito, a Rússia falhou grande parte dos objetivos a que se propunha em território russo. Por exemplo, não conseguiu tomar Kiev em dias. E, entre setembro e novembro de 2022, as tropas russas perderam grandes parcelas de territórios ocupados na Ucrânia.

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Esta fase mais negativa da Rússia na guerra levou a que ao líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, recorresse às redes sociais para atacar e insultar o ministro da Defesa, acusando-o de falta de eficácia no campo de batalha. Em junho de 2023, o chefe da milícia paramilitar começou uma “marcha pela justiça” que tinha como objetivo a demissão do ministro da Defesa e igualmente do chefe das Forças Armadas, Valery Gerasimov.

Apesar de Vladimir Putin ignorar os insultos de Yevgeny Prigozhin ao ministro da Defesa, não tolerou a “marcha pela justiça” e colocou-se ao lado de Sergei Shoigu. O líder do grupo Wagner acabou por morrer, em agosto de 2023, num acidente de avião cujas circunstâncias nunca foram esclarecidas.

Sergei Shoigu venceu a batalha contra o mercenário. Em 2023, contrariamente ao ano anterior, a Rússia também consegue obter alguns sucessos, travando a contraofensiva ucraniana. Este ano, Moscovo tem assumido uma posição ofensiva e tem conseguido recuperar vários territórios. O ministro da Defesa parecia estar num estado de graça — até à demissão de Timur Ivanov.

Na elite moscovita, segundo o Financial Times, especula-se que Vladimir Putin teme que Sergei Shoigu ganhe protagonismo no conflito — e há que agitar as águas para evitar esse cenário.

Num artigo para a revista The Spectator, o especialista em assuntos russos Mark Galeotti escreve que a corrupção não é propriamente algo novo no Kremlin: “Que alto dirigente vive do seu salário?” Tudo isto levanta várias dúvidas sobre o motivo pelo qual Timur Ivanov foi detido.

Assim, Mark Galeotti teoriza que poderá ser o início de uma campanha para retirar Sergei Shoigu do cargo de ministro da Defesa, havendo já um argumento preparado pelos seus inimigos: como é que o governante pode continuar no cargo se protege corruptos?