Tudo começou na última sexta-feira, 2 de junho. No programa “Sexta às 9” da RTP, um funcionário do Convento de Cristo em Tomar denunciou que a rodagem do filme “O Homem que Matou D. Quixote” deixou o histórico monumento parcialmente destruído. O funcionário, que não quis ser identificado, disse que o projeto internacional de Terry Gilliam, membro do grupo humorístico Monty Python, deixou “pedras partidas, pedras danificadas e árvores totalmente cortadas pela raiz”. Um outro funcionário, também não identificado, diz que os membros da equipa das filmagens “meteram-se em todo o lado, andaram no teto da charola, há telhas partidas por todo o lado”.

Os produtores deste filme, que teve um investimento de 17 milhões de euros, terão feito uma fogueira com 20 metros de altura que, diz um dos funcionários, deixou o claustro de D. João II. A Direção Geral do Património defendeu-se dizendo que esses estragos tinham acontecido por acidente porque as pedras já estavam enfraquecidas, mas abriu um inquérito. Também a produtora do filme garante que todas as modificações feitas no Convento, até mesmo o corte das árvores no claustro, tinham sido autorizadas, mas a atual direção do Convento afirmou que não tinha permitido fogo, nem cortar árvores ou quebrar estruturas no interior do edifício.

Entretanto, Terry Gilliam já se defendeu através de uma publicação no Facebook onde escreve que, ao realizar este projeto de 17 anos naquele que considera ser “um dos mais gloriosos edifícios” que já viu, tudo o que fez foi “para proteger o edifício de qualquer dano e correu bem. Não foram cortadas árvores e as pedras não foram partidas. A fogueira foi inspirada em Las Fallas [festa típica] de Valência”. E opina: “As pessoas deviam começar por saber dos factos antes de gritarem de forma histérica”.

Mas o Bloco de Esquerda já pediu uma audição parlamentar do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, com urgência. José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda, disse no Facebook que “a ideia, que se tem generalizado, de que o património deve ser posto ‘a render’ é perigosa e perversa”. E tece críticas à Direção Geral do Património: “Quando a falta de cuidado de quem deve zelar pelo interesse público se soma à falta de respeito de quem acha que deve ser tudo dele, dá nisto”. Da ala mais à direita, também o deputado do PSD Duarte Marques pede que se “apurem as responsabilidades” do sucedido no Convento.

A reportagem da RTP foi mais longe e afirma ter descoberto um esquema de burla ao Estado com várias décadas relativo às receitas das bilheteiras: de acordo com um funcionário entrevistado pelo “Sexta às 9”, os visitantes do Convento “são enganados, são roubados” quando compram a entrada no edifício. “Vai um casal e pede dois bilhetes para a terceira idade e podem-lhe dar um bilhete de zero euros para duas pessoas”, exemplifica um dos funcionários. Outro confirma esta situação: “Passar bilhetes com valor inferior quando se cobra mais. Passar bilhetes que não existem, como por exemplo vouchers”. Como? “O colega que está na caixa pode imprimir o bilhete que quiser. Pode pôr o bilhete a zeros e depois no fim pode ficar com esse dinheiro para si”.

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